quinta-feira, 18 de abril de 2019

A CONDENAÇÃO DE JESUS CRISTO FOI LEGAL (1ª PARTE)



Essa é a primeira parte A PENA CAPITAL E A CONDENAÇÃO DE JESUS. Leia você vai se surpreender.


                                  INTRODUÇÃO

Jesus de Nazaré, nascido no ano 748 (setecentos e quarenta e oito) da fundação de Roma, sob o governo de Otávio Augusto, primeiro Imperador Romano, que substituiu o regime republicano. Este imperador morreu no ano 14 (quatorze) da era cristã, tendo Tibério assumido o império, que por sua vez morreu em 37 (trinta e oito) d.C.  Jesus como atestam alguns livros do Novo Testamento viveu por aproximadamente 33 (trinta e três) anos. O país do seu nascimento era a Palestina Judéia Província, em um lugar chamado Belém, a maioria de sua vida foi passada em Nazaré da Galileia, pertencente à província, que estava sob o domínio romano.
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Jesus de Nazaré surgiu como um revolucionário político ou social? Realmente conseguiu fazer alguma mudança social na Palestina de sua época? O povo estava subjugado pelo domínio do Império Romano e da elite judaica que servia aos caprichos do seu dominador. Neste contexto, Jesus Cristo pregou, curou e ressuscitou morto. Será que o povo escolhido de Deus esperava algo mais do Messias prometido no Velho Testamento?

Jesus Cristo é o cerne de toda a realidade cristã; é o personagem central da história do mundo. Com brilho, Bancroft (1995, p. 97) conclui que a pessoa de Jesus Cristo não somente está firmemente engastada na história humana e gravada nas páginas abertas das Escrituras Sagradas, mas também é experimentalmente materializada nas vidas de milhões de crentes e entrelaçada no tecido de toda a civilização digna desse nome.

O mestre da Galileia, nada escreveu, apesar de muitos escreverem sobre seu respeito. Flavio Josefo foi um deles (2013, p. 832) ao descrever Jesus afirma tratar-se de um homem sábio. Ensinava a judeus e aos gentios, e aos que tinham prazer em ser instruídos na verdade. Ele era o CRISTO o mais ilustre dentre os de nossa nação. Entregue pela alta cúpula jurídica judaica a Pilatos que o crucificou.           
A condenação de Jesus a pena capital de crucificação foi o maior julgamento na história da humanidade, e nenhum suscitou tão profundas incertezas em relações aos mais variados fatos, tais como: Jesus sabia que iria ser condenado? Se realmente sabia de seu fim trágico não cometeu, teoricamente, suicídio? Seu julgamento respeitou a legislação rabínica e romana? Quais fatos provocaram a condenação e a morte de Jesus? Quem realmente foi o responsável pela condenação de Jesus à pena capital, os judeus ou os romanos?  Quem o matou? Por que matou?  Estas incertezas permeiam o mundo cristão, e aqueles que enxergam as Escrituras apenas como compendio de história.

É verdade que em vários trechos e passagens da história bíblica há informações atribuídas a Jesus de que ele já tinha conhecimento do que iria se passar em sua vida, isto é, a sua prisão e morte. Mais do que isso, seu próprio Pai o mandou ao mundo para morrer pelos humanos.

Uma das causas para a condenação de Jesus teria sido a perturbação da ordem pública, delito que o acusaram. Jesus ensinou a verdade, aliás, Ele foi à verdade (João 14:6).

Muitos de nós acreditamos que o tema central do ensino de Jesus tenha sido a salvação dos pecadores. Ele tratou desse problema, mas o seu grande tema foi o Reino de Deus. Pregava ao povo o arrependimento, pois o Reino de Deus já havia chegado (Mateus 4:17, 23), e nos debates contra os religiosos judeus utilizava o titulo de Filho de Deus. Este tema despertou a ira dos sacerdotes, e o levou a condenação pelo crime de blasfêmia.

Roma, fundada no século VIII a.C, expandiu cada vez mais seus domínios territoriais (27-395 a.C) , e não foi diferente com o povo judeu.  Havia várias regiões em Israel que eram comandadas por governadores.  Herodes, O Grande foi o Rei Romano da Judeia na época do nascimento de Cristo. Com sua morte[1] o imperador Augustus resolveu dividir o reino entre seus filhos. Arquelau foi nomeado etnarca (Judéia, Samaria e Iduméia), Herodes Antipas (Galileia e Peréia) e Herodes Filipe tetrarca (Bataneia, Itureia, Traconites e Gualanites). Na época do ministério de Jesus Cristo com a morte de Augustus assumiu o poder imperial para governar Roma, seu filho adotivo Tibério. Foi ele quem colocou Pôncio Pilatos como governador da Judeia.

Analisando o contexto histórico-politico e social na época do julgamento de Jesus Cristo Israel era submetido ao imperador romano, enquanto as províncias eram administradas por governadores. Tínhamos Tibério como imperador e Pôncio Pilatos como governador da Judéia e Herodes Ântipas como governador da Galileia.  Trazendo está forma de administração para o Brasil seria maios ou menos assim: Tibério seria o Presidente do Brasil, Pilatos e Herodes governadores de estados brasileiros.
Sem intenção de acrescentar ou censurar passagens das Escrituras em relação à vida e morte de Jesus Cristo, o objetivo desta obra é, pela análise dos textos bíblicos dentro dos aspectos jurídicos mergulhando nas ações por ele praticadas, identificando os mínimos detalhes nelas contidos, em busca de provas que garantam a veracidade do relato, o que se justifica por nossa formação em Direito e o exercício do cargo de Delegado de Polícia.

Certamente a condenação de Jesus à pena capital de crucificação foi o maior julgamento na história da humanidade, e nenhum outro suscitou tão profundas incertezas que permeiam o mundo cristão, sobretudo naqueles que enxergam as Escrituras apenas como compendio de história.

Através de pesquisa bibliográfica em materiais desenvolvidos em livros, artigos o trabalho está organizado da seguinte forma:

No capitulo I, aspectos históricos da pena de morte com citações sobre os códigos Draconianos e Hamurabi, bem como a introdução no contexto da humanidade da pena por crucificação.
No capitulo II, O Direito Hebreu e o Direito Romano é tratado nos seus aspectos históricos e jurídicos reportando às legislações vigentes a época de Jesus.

Já no capitulo III, O julgamento de Jesus é analisado diante dos direitos hebreu e romano. 

Nas Considerações finais, retomo alguns pontos discutidos nos capítulos anteriores para poder melhor compreender os vários aspectos jurídicos e legais que configuraram o julgamento e a condenação de Jesus Cristo, para, ao cabo pontuar sobre a legalidade ou não da pena aplicada.

1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA PENA DE MORTE

Este capítulo abordará a pena de morte no decorrer da história, fazendo perceber que este tema era comum em algumas culturas antigas. Será abordado o Código de Hamurabi e o texto bíblico entre outros.
A pena capital tem origem histórica mesopotâmica, onde os códigos Draconiano e Hamurabi elencavam a aplicação da pena de morte aos indivíduos que cometiam determinados crimes. Assim o Estado viu na pena de morte um meio para solucionar problemas de ordem social e política da época, punia-se com a pena capital o delinquente ao criminoso político.
O termo poena, do latim significa pena, sofrimento, ato de isolar o infrator do convívio social, para colocar fim aos seus crimes. Os mestres do direito penal conferem a pena de morte como uma forma de vingança, trazendo a esta uma divisão quatrípide.[1] A pena de morte entristece a sociedade, pelos exemplos de crueldade que dá aos homens. E o que se deve pensar do carrasco que arrasta um suposto culpado à morte, com requinte de cerimônia e com a tranquilidade de um trabalho normal.
Para Becarria [2] a pena de morte não torna o homem melhor, pois nenhum homem daria o direito a outrem de tirar-lhe a vida. Afirma ainda que a pena de morte não se alicerça em nenhum direito legal, e sim em uma guerra declarada pelo Estado contra o individuo considerado inútil.
Na antiguidade era tão banal a aplicação da pena de morte que os egípcios aplicavam em todos os delitos. Para a inquisição a pena de morte foi fundamental, pois com a aplicação dessa punição buscava-se eliminar os hereges que eram contrários à medicina, incitavam os pobres a roubarem dos ricos alegando que os valores arrecadados seriam utilizados na construção de uma nova igreja, eram a favor do aborto e a total abstinência sexual, assim contrariavam o funcionamento do Estado e da Igreja. O modus operandi utilizado pela inquisição para aplicação da pena capital fora o enforcamento.    
Algumas nações instituíram a pena capital com a homologação de determinados códigos que ficaram conhecidos através da historia.


1.1  Os códigos Draconiano e Hamurabi

Os códigos Draconiano (620 a.C.) e Hamurabi (1700 a.C.), no Antigo Oriente não são as primeiras leis escritas que tratam da pena de morte. O primeiro código de leis de que se tem informação é o código de Shulgi, da terceira dinastia de Ur (2097-2047 a.C.), de origem Sumeriana, povo responsável pela escrita cuneiforme (escrita produzida com o auxilio de objetos em formato de cunha), que trouxe a previsão da pena pecuniária em substituição as penas talianas.[3]
A primeira Constituição escrita de Atenas foi o Código Draconiano que recebeu este nome em homenagem a seu criador Drácon ou Draconte, legislador grego do Século VII, que recebeu a incumbência de codificar todas as leis orais, que em sua essência passou para o Estado a função da vingança particular (Lei de Talião) [4]. O Código Penal Brasileiro prevê em seu artigo 345 limitação a Lei de Talião: “Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite”.
O código era tão severo que hoje o termo “draconiano” ostenta um peso imenso. Fala-se de draconiano quando a situação é muito dura, rígida, áspera, cruel. Previa pena de morte para quase todos os crimes considerados sérios, o responsável pela decisão da pena capital era o Areópago, O Supremo tribunal.[5]
O Código de Hamurabi tem como mentor o rei Hamurabi da primeira dinastia babilônica do Século XVIII (1792-1750 ou 1730-1685 a.C.). Este monarca fortaleceu e expandiu seu reino por meio da diplomacia e da conquista militar. Notável administrador, seu reinado é conhecido como “a idade de ouro da Babilônia”. A Hamurabi se credita o feito de haver unificado a Babilônia.  Baseava em antigas coleções de leis sumérias e acádias, surgiu aproximadamente no ano 1700 a.C., anterior ao Pentateuco (1500-1400 a.C.), sendo um modelo para os futuros escritores da antiga Mesopotâmia.
O fundamento geral do código Hamurabi era o seguinte: “O forte não prejudicará o fraco” (DHNET, 2014). O princípio por trás da lei é o de trazer equilíbrio entre crime e penalidade. Composto de 282 (duzentos e oitenta e dois) parágrafos que tratam sobre questões civis, criminais e comerciais. A pena de morte é amplamente aplicada em seu texto, em delitos dos mais simples como o previsto no artigo 3º no caso da testemunha de acusação não provar em juízo o que alegou contra o acusado. Sua execução se dava pela morte da fogueira, a empalação ou o afogamento. Exemplos de delitos que eram punidos com a pena de morte no Código Hamurabi:
Se alguém em um processo se apresenta como testemunha de acusação e não prova o que disse, se o processo importa perda da vida, ele deverá ser morto.’ Se alguém enganar a outrem, difamando esta pessoa, e este outrem não puder provar, então aquele que enganou deverá ser condenado à morte; se uma pessoa roubar a propriedade de um templo ou corte, ele será condenado à morte e também aquele que receber o produto do roubo deverá ser igualmente condenado à morte; se uma pessoa roubar o filho menor de outra, o ladrão deverá ser condenado à morte; se uma pessoa arrombar uma casa, deverá ser condenado à morte na parte da frente do local do arrombamento e ser enterrado.[6]

O conjunto de normas de Hamurabi tem por escopo a lei de talião, “olho por olho, dente por dente”. Talhadas na escrita cuneiforme em uma rocha de diorito de cor escura. Todo ato praticado em desconformidade com a lei receberia uma pena proporcional. A pena de morte é a punição mais comum prevista no Código Hamurabi. Não havia a possibilidade de desculpas ou de desconhecimento das leis. Moraes assim entendia a este respeito:
O mal causado a alguém deve ser proporcional ao castigo imposto: para tal crime, tal e qual a pena. Esse Código é o mais famoso e reconhecido código legal antigo, consagrando um rol de direitos comuns a todos os homens, tais como a vida, a propriedade, a honra, a dignidade, a família, prevendo, igualmente, a supremacia das leis em relação aos governantes. [7]
O Código de Hamurabi, tratando sobre delitos e penas, traz um conceito similar aos textos de Êxodo 21 e Levítico 24. 
Vejamos alguns exemplos da Lei de Talião pautados nas Escrituras:
Fratura por fratura, olho por olho, dente por dente. Assim como feriu o outro, deixando-o defeituoso, assim também será ferido. Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé. Não tenham piedade. Exijam vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé. Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente.[8]


1.2 A sagrada Escritura e a lei de Talião

A expressão “Olho por olho, dente por dente” da Lei de Talião tem nascimento no latim lex Talions, que em síntese consiste na punição equitativa do crime e da pena. Para muitos legisladores a pena imposta pela lei de talião era demasiadamente cruel, porém para o professor Meister[9] a lei de talião veio trazer ordem e equilíbrio a uma sociedade violenta: “O mal causado a alguém deve ser proporcional ao castigo imposto: para tal crime, tal e qual a pena”. O acusado recebe pena com a mesma equidade da agressão praticada.
 Os primeiros indícios de consagração da Lei de talião (como tal, idêntico) foram encontrados no Código de Hamurabi, onde é estabelecida a proporção entre a ofensa e a reparação, sendo simbolizada pela expressão “olho por olho, dente por dente”. Essa limitação da ação punitiva é adotada pelo Código de Hamurabi, nas Escrituras no Livro de Êxodo capitulo 21, e na Lei das XII Tábuas, tendo sido um marco na História do Direito Penal. A finalidade de todas as leis que prescrevem a Lei de Talião é o equilíbrio entre crime e pena.
A Lei de Talião prescrita na Palavra de Deus, no livro de Êxodo capítulo 21, versículo 24, que assim afirma olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, serviu ao propósito do Criador para o contexto da época, e alguns casos poderia ser aplicada em nossos dias; exemplo é a lei da proporcionalidade nos delitos contra a propriedade.
Muitos estudiosos erroneamente entendem que a legislação Hebraica é dependente do Código Babilônico, pela simples razão de trazer em seu conteúdo o talião. O professor Unger[10]estabeleceu algumas diferenças entre a Legislação de Moisés e os Códigos de Hamurabi, entre estas destacam que o primeiro permite ao homem repudiar sua esposa, mas  não estende o mesmo direito a varoa, como faz o Código Babilônico, outra importante diferenciação alude nas origens credita a cada um dos códigos. O código babilônico diz que Hamurabi o recebeu do deus sol Shamás, enquanto que Moisés recebeu as suas leis diretamente de Deus.
A pena de morte é elencada tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento. Ela é implicada no livro de Gênesis (4:14-16) no diálogo entre o primeiro homicida  e Deus, sendo ratificada no livro de Atos (25:10-11) . A pena de morte é prevista e permitida na lei de Deus, apesar do Sexto Mandamento, previsto no livro de Êxodo, capitulo 20, versículo 13 proibir o homicídio. A pena de morte é “sem dúvida, por causa de certos crimes, a lei de Deus permite que as autoridades constituídas imponham a pena capital. Quando o Estado cumpre com os princípios de Deus, este ato não viola o Sexto Mandamento”. [11]
Na Torá temos a vingança privada, em que é dado à vítima o direito de aplicar a Lei de Talião. Dente por dente, olho por olho. A vingança divina, próprias dos Estados em que o sistema de governo é submetido às normas religiosas, a todo ato delituoso contra a divindade seria aplicado uma pena, à cargo de um chefe religioso. Na vingança pública, esta forma que fora aplicada a Jesus Cristo, a morte era precedida de torturas, era uma forma dos reis, príncipes reafirmarem seus poderes. O último período foi o humanitário, que surgiu como forma de tentar banir a pena de morte.
Aqueles que defendem os ideais da reforma e a interpretação calvinista das Sagradas Escrituras, na crença de que ela faz justiça à revelação da palavra de Deus para o homem, e de que simboliza uma das melhores formas de estruturação da verdade cristãs esquecem que existem as confissões de fé que tratam sobre estes temas polêmicos. 

 É exemplo a Confissão de Fé de Westminster (1988,p.16)  que não silencia a respeito da pena de morte:
Deus, o Senhor supremo e Rei de todo o mundo, para a sua própria glória e para o bem público, constituiu sobre o povo magistrados civis, a ele sujeitos, e para este fim os armou com o poder da espada para defesa e incentivo dos bons e castigo dos malfeitores.   Aos cristãos é licito aceitar e exercer o ofício de magistrado, sendo para ele chamado; e em sua administração, como devem especialmente manter a piedade, a justiça, e a paz segundo as leis salutares de cada Estado, eles, sob a dispensação do Novo Testamento e para conseguir esse fim, podem licitamente fazer guerra, havendo ocasiões justas e necessárias. [12]

O conceito de pena de morte originou-se em Deus e não no homem. Sendo Deus o criador do homem, portanto, ELE pode dispor da vida humana. Neste sentido ordena a autoridade constituída a aplicar a pena capital como forma de proteger a vida, seguindo o mesmo princípio da proporcionalidade que, de maneira alguma, ofende o sexto mandamento que prescreve “não matarás”:
Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas. Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade está se colocando contra o que Deus instituiu, e aqueles que assim procedem trazem condenação sobre si mesmos. Pois os governantes não devem ser temidos, a não ser pelos que praticam o mal. Você quer viver livre do medo da autoridade? Pratique o bem, e ela o enaltecerá. Pois é serva de Deus para o seu bem. Mas se você praticar o mal tenha medo, pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal.[13]

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No livro de Gênesis, no capítulo 9, versículo 6, surge o estabelecimento da pena de morte por Deus, assim diz: “Quem derramar sangue do homem, pelo homem seu sangue será derramado; porque à imagem de Deus foi o homem criado”. A pena capital somente era aplicada após ser provado o crime e a autoria[14]. A Bíblia traz algumas formas de penas, entre elas: a pecuniária, a de restituição e a pena de morte. As normas previstas no Antigo Testamento aplicam a pena de morte para vários delitos, vejamos:
Homicídio e fratricídio (Gn. 9:5, seis; Lv. 24:17), homicídio culposo (Ex.21:12, 29), homicídio doloso (Ex.21:14), patrocídio: assassinato dos pais (Ex.21; 15), sequestro ou rapto (Ex.21:16), amaldiçoar os pais (Ex.20:9; Lv. 20:9), crime hediondo (Ex.21:23), prática de feitiçaria (Ex.22:18; Lv. 20:6), sacrificar aos deuses pagãos (Ex.22:20; Lv. 20:2), praticar adultério (Lv. 20:10-12 20,21; Dt. 22:22), por homossexualismo (Lv. 20:13), incesto (Lv. 20:14, 17,19), bestialidade, sexo com animais (Lv. 20:15, 16), prostituição (Lv. 25:1, 9), blasfêmia (Lv. 24:14), falsidade profética (Dt. 13:1-10), fornicação e adultério feminino (Dt. 22:13-21), estupro (Dt. 22:23-27) e furto (Dt. 24:7).


1.3 A pena de morte e o decálogo


Na Bíblia não existe a previsão de cadeias públicas. As celas eram utilizadas apenas como local de encarceramento provisório até o julgamento do criminoso. Em Números, quarto livro da Torá está prescrito que prenderam um homem por este esta trabalhando no sábado, dia do descanso para os judeus, porém não sabiam o que deveria ser feito com ele.[15]
O que encontramos nas Escrituras é o princípio da restituição elencado, por exemplo, em Levítico, terceiro livro da Torá, em que a morte de um animal por ação humana, o autor é obrigado como forma de pena a restituir outro animal  e quem matar um homem será aplicado a pena de morte.[16] 
Nos preceitos das “Tábuas da Lei”, ou seja, os Dez Mandamentos ou Decálogo (Êxodo 20.1-13), Deus resumiu a lei que entregou ao profeta Moisés, apresentando-a formalmente ao povo, e registrando-a, sucinta e objetivamente nas tábuas de pedra as relações entre o criador e a criação, e entre os homens. Aqui, faz-se necessário observar que fora a primeira vez que Deus falou coletivamente ao seu povo. Os Dez Mandamentos estabelecem obrigações e limites para o homem reforçam nossas obrigações para com os nossos semelhantes, em todos os sentidos. 
Muitos, erroneamente, encontram no 6º Mandamento a proibição legal para à aplicação da pena de morte, afirmando que o “Não matarás”, proibiria qualquer forma de pena capital ao homem.  O argumento de quem defende esta proibição tem alicerce na negação da validade da Lei de Deus para os nossos dias. Entendemos, ao contrário sensu, que precisamente o sexto mandamento reforça ainda mais à aplicação da pena de morte, ou seja, ele prescreve como proibição o matar sem licitude jurídica, em momento algum transcreve uma proibição à aplicação da pena capital, ao contrario, tem o propósito de preservar a vida.
O assassinato que o sexto mandamento proíbe é o ilegal, ou seja, tirar a vida de alguém injustamente. O crime se caracteriza pela raiva passional, resultante de imprudência. A melhor tradução para o crime previsto no mandamus seria não matarás ilegalmente.  
O mandamento expresso no livro de Êxodo (20:13) enfatiza a santidade da vida. O que temos prescrito é Deus proibindo o homicídio. A palavra, no original, aparece 49 vezes no Antigo Testamento, sempre para descrever o assassinato. Esta proibição não é parafraseada em relação a animais ou na morte de inimigos no campo de batalha. O mandamento não está ensinando que toda a morte é errada. O “não matarás”, aqui, significa, não cometerás assassinato.
A proibição diz que nenhum indivíduo tem o direito de tirar a vida de outrem.  A proibição não se estende ao poder coercitivo do Estado que, exercitando o mandato e a autoridade concedida por Deus, passem a aplicar a justiça e a reforçar o sexto mandamento, com a aplicação da pena de morte àqueles que praticam crimes, por exemplo, hediondos. Os pecados proibidos no sexto mandamento é o matar alguém, exceto no caso de justiça aplicada pelo Estado, no caso de guerra e no caso de defesa necessária.
A proteção dada pela Bíblia à santidade da vida, encontrada no 6º Mandamento e em outras passagens da Escritura, contrasta com os costumes dos povos pagãos que viviam nos limites geográficos de Israel, onde a vida humana não era considerada o bem maior, chegando a ocorrer cerimônias religiosas com sacrifício humano para atender crenças ou mesmo castigo por crimes banais. Keiser ao comentar sobre a proteção à propriedade prevista no Antigo Testamento, assim entende:
A Lei antiga do oriente prescrevia a pena de morte para crimes contra a propriedade, mas no Velho Testamento nenhum crime contra a propriedade é merecedor da pena capital.  Mais uma vez, o ponto focal é o de que  a vida é sagrada, não as coisas são sagradas.  Qualquer que pretendesse destruir a qualidade sagrada da vida cometia uma ofensa capital contra Deus. O povo de Deus sempre reconheceu que há situações em que tirar a vida é não só permitido, mas na verdade assegurado. [17]



A própria Lei Civil de Israel prescrevia a pena de morte em várias instâncias, em razão da quebra do sexto mandamento.  :
Se um homem ferir alguém com um objeto de ferro de modo que esta pessoa morra, ele é assassino; o assassino terá que ser executado. Ou, se alguém tiver nas mãos uma pedra que possa matar, e ferir uma pessoa de modo que ela morra, é assassino; o assassino terá que ser executado. Ou, se alguém tiver nas mãos um pedaço de madeira que possa matar, e ferir uma pessoa de modo que ela morra, é assassino; o assassino terá que ser executado. O vingador da vítima matará o assassino; quando o encontrar o matará. Se alguém, com ódio, empurrar uma pessoa premeditadamente ou atirar alguma coisa contra ela de modo que ela morra, ou se com hostilidade der-lhe um soco provocando a sua morte, ele terá que ser executado; é assassino. O vingador da vítima matará o assassino quando encontrá-lo.[18]
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 A Bíblia ainda relata outros atos punidos com a pena de morte, porém percebemos com enorme frequência o CRIADOR demonstrando misericórdia em relação à pena de morte, apesar de saber que seu filho primogênito não seria perdoado, remiu Davi da morte após cometer adultério.[19]
No Tanak eram previstos algumas formas de aplicação da pena de morte como a lapidação (apedrejamento) e a crucificação.


1.4 Outras informações sobre a pena capital

Não podemos esquecer que o próprio Deus, após julgamento aplicou a pena de morte aos homens através do dilúvio.  A Bíblia faz uma distinção entre individuo e o Estado. A pena capital, quando aplicada com justiça pelas autoridades governantes, é formalmente permitida, pois matar um criminoso não é assassinato, mas justiça. Este não é só o ensinamento do Antigo Testamento, mas também do Novo Testamento.
No Novo Testamento, Paulo, escrevendo a sua epistola aos Romanos, reconheceu o poder do Estado para criar e instituir a pena de morte, caso fosse necessário (Rm 13: 1-5). Apesar de ser errada a vingança (Rm 12:19), o governo tem a responsabilidade instituída por Deus de estabelecer a justiça. Não vem da palavra de Deus a afirmação do cristão que se opõe a pena capital, pois se o próprio SENHOR instituiu, e permitiu ao governo a sua criação em crimes violentos.
Hoje os muçulmanos adeptos ao Islamismo adotam em seu livro sagrado denominado Alcorão ou Corão, a pena de morte, no caso de homicídio. Na 2ª Surata “A vaca” está prescrita a Lei de Talião[20]:
Ó fiéis, está-vos preceituado o talião para o homicídio: livre por livre, escravo por escravo, mulher por mulher. Mas, se o irmão do morto perdoar o assassino, devereis indenizá-lo espontânea e voluntariamente. Isso é uma mitigação e misericórdia de vosso Senhor. Mas quem vingar-se, depois disso, sofrerá um doloroso castigo. Tendes, no talião, a segurança da vida, ó sensatos, para que vos refreeis (Alcorão 2: 178-179).

No Brasil, a pena de morte originou-se entre os indígenas, com a aplicação da pena capital aos inimigos através do tacape. O primeiro Código Penal Brasileiro, datado do ano de 1830, estabeleceu a pena de morte nos crimes de homicídio. A última execução determinada pela Justiça Civil no Brasil foi à do escravo Francisco, em Pilar das Alagoas, em 28 de abril de 1876, e a última execução de um homem livre foi, provavelmente, pois não há notícias de outra depois, a de José Pereira de Sousa, condenado pelo júri de Santa Luzia, em Goiás, enforcado na dita vila, no dia 30 de outubro de 1861. 


1.5 A pena capital por crucificação

A crucificação era método de execução utilizado usualmente em Roma e Cartago como forma de matar ou intimidar os inimigos e para exposição de um criminoso em uma cruz, em uma árvore ou em um mastro. O aspecto chave da crucificação era a exposição ao público. O termo crucificação vem do Latim crucifixio (“fixar a uma cruz”, do prefixo cruci-, de crux (“cruz”), + verbo figere, “fixar ou prender”). No grego corresponde a staurós (cruz) ou skólopos (estaca, poste). A primeira evidência da pena capital por crucificação ocorreu no século IX a.C. na Turquia, Iraque, Síria, comandada pelo Rei Asiriom Jalmaneser.
Vários povos usavam a crucificação como pena capital:

Nas mais célebres nações do mundo foi usado o suplício da cruz. Entre os assírios, antes do nascimento de Abraão, Pharmo, rei da Média, foi crucificado por mandado de Nino, seu vencedor. Entre os hebreus, o rei Janneo (Janeu), filho de Hircano, mandou crucificar oitocentos deles. Entre os gregos, Xantippe, general dos atenienses, condenou ao suplício da cruz a Artayete, governador da Etólia. Os gregos demonstravam verdadeiro pavor à crucificação, e por isso não a adotaram como forma de execução de seus criminosos. Ela só passou a fazer parte dos costumes gregos no tempo de Alexandre, o Grande, que a imitou dos persas. Foi praticada na Síria sob os selêucidas, e no Egito sob o governo dos Ptolomeu. Em Siracusa, cidade grega, Dionísio, o tirano, praticou-a inspirado pelos cartagineses. [21]

A crucificação foi um método comum no Império Romano como forma de punição aos escravos, e mais tarde passou a ser aplicada aos prisioneiros de guerra e principalmente aos que se revoltavam pela derrota. Possivelmente os romanos aprenderam a prática da crucificação com os cartaginenses. Acredita-se que sua origem tenha vindo da Pérsia, e depois foi levado para o Ocidente por Alexandre sendo então copiado dos cartagineses e pelos itálicos, sendo abolida por Constantino no século IV. Herodes, O Grande foi quem introduziu a pena capital pela crucificação em Israel matou mais de 2.000 (dois mil) judeus.
Na história contemporânea existem muitos massacres populares pela crucificação. No ano de 518 a.C., Dario I Rei da Pérsia, esmagou uma rebelião popular na cidade de Babilônia e crucificou 3 mil pessoas. No ano 332 a.C. Alexandre, O grande, Rei da Macedônia, usou punição similar ao povo de Tiro crucificando 2 mil pessoas. Alexandre fora o responsável pela transição da Empalação Assíria para a crucificação Romana.  Segundo os olhares médicos sobre a crucificação Truman, entende:
Aparentemente, a primeira prática conhecida de crucificação foi realizada pelos persas. Alexandre e seus generais trouxeram esta prática para o mundo mediterrâneo para o Egito e para Cartago. Os romanos aparentemente aprenderam a prática dos cartagineses e (como quase tudo que os romanos fizeram) rapidamente desenvolveram nesta prática um grau muito alto de eficiência e habilidade. Vários autores romanos (Lívio, Cícero, Tácito) comentam a crucificação, e são descritas várias inovações, modificações, e variações na literatura antiga.[22]

A maior crucificação de que se tem noticia ocorreu em 71 a.C. em Roma, sob o governo de Pompeu, após dominarem a revolta de 200.000 mil escravos comandados por Espártaco, em um só dia foram crucificados cerca de 6000 (seis mil) judeus na via Apia. Os corpos formaram uma linha de 200 km de comprimento de Cápua até Roma. Os crucificados ficavam apodrecendo ou se decomponho em algum aterro. O corpo de Espártaco nunca foi encontrado.
Foram empregados alguns tipos de cruzes, empregando dois paus de madeira. Tivemos a de um pau atravessado pelo meio do outro, como a letra “X”, conhecida como a Cruz de Santo André, a de um pau atravessado pela extremidade superior de outro, como a letra “T”, conhecida como a Cruz de Santo Antônio ou Egípcia e a de um pau direto, sendo atravessado por outro, formado de uma cruz +, conhecida como Cruz Latina.

 Matos assim descreve os tipos de cruz utilizados na crucificação:
Foram empregadas no geral 4 (quatro) formas distintas de crucificação: cruz imissa ou latina (†); cruz comissa ou de Santo Antônio (T); cruz grega posterior (+); cruz decussata ou de Santo André (X). Os cidadãos romanos eram isentos da pena capital por crucificação. A crucificação era prevista para crimes de traição, deserção, roubo, pirataria, assassinato, sedição.   [23]

Em alguns séculos antes de Cristo o Império Romano aplicava a pena capital amarrando o corpo da vítima em uma estaca, sendo o corpo abandonado em local público como forma de advertência ao povo. No século I d. C., Roma ocupou a Judéia, hoje Israel, a crucificação era a pena capital bem comum. A primeira revolta judaica ocorreu aproximadamente no ano 66 d.C tendo como motivo principal a questão religiosa. Pompeu, administrador romano na região, decidiu instruir a direção dos Santos dos Santos. A tensão começou a fluir, Roma se viu obrigada a permitir aos judeus, certa liberdade religiosa. Entretanto, os benefícios foram parcialmente desfeitos em 39 d.e.c., quando o Imperador Calígula (12-41 d.C.) decidiu tornar-se um deus, e insistiu que estátuas com sua imagem fossem construídas em todos os templos dentro do Império. Profundamente ofendidos, os judeus decidiram resistir à ordem. Preparativos para a revolta foram feitos e alguns incidentes ocorreram, porém os romanos agiram rapidamente para e conseguiram controlar a situação. Foi somente em 66 d.C. que a rebelião começou propriamente dita, pelo fato da recusa por parte do Sumo sacerdote judeu em oferecer orações e sacrifícios ao Imperador Romano. Isso era um protesto por ver gregos sacrificando pássaros justamente em frente à sinagoga e a recusa da guarnição romana de fazer alguma coisa a respeito disso. Logo em seguida, o incidente incrementou-se e uma guarnição romana foi atacada. [24]

No ano 70 d.C, Jerusalém foi conquistada e seu templo destruído pelo futuro imperador romano Tito . O cerco e a queda de Jerusalém são descritos pelo historiador judeu Flávio Josefo:

É então um caso miserável, uma visão que até poria lágrimas em nossos olhos, como os homens aguentaram quanto ao seu alimento... a fome foi demasiado dura para todas as outras paixões... a tal ponto que os filhos arrancavam os próprios bocados que seus pais estavam comendo de suas próprias bocas, e o que mais dava pena, assim também faziam as mães quanto a seus filhinhos... quando viam alguma casa fechada, isto era para eles sinal de que as pessoas que estavam dentro tinham conseguido alguma comida, e então eles arrombavam as portas e corriam para dentro... os velhos, que seguravam bem sua comida eram espancados, e se as mulheres escondiam o que tinham dentro de suas mãos, seu cabelo era arrancado por fazerem isso. [25]

Na época da tomada da capital os romanos costumavam crucificar 500 (quinhentos) judeus por dia. O método e a forma de crucificação variavam de acordo com o capricho e o sadismo e a vontade do executor, nem as mulheres eram poupadas. Os romanos prolongavam deliberadamente a agonia da vítima. Muitos historiadores creditam aos romanos a primeira crucificação em uma cruz. Eles se tornaram mestre na execução por crucificação. Os romanos introduziram dois tipos de crucificação: uma na forma da letra grega Tau, sendo a mais frequente usada pelos Romanos, e outra letra latim T minúscula.   
A forma mais usual entre os romanos nos dias de Cristo era a Cruz “Tau” com o formado da letra “T”. Nesta, a pena capital ocorria com o patibulum fixado ao topo do stipes. Existem poucos materiais arqueológicos encontrados sobre a crucificação, uma vez que provavelmente havia pouca preocupação com as pessoas que eram crucificadas, os seus restos mortais eram simplesmente dispersos.

Um raro estudo arqueológico foi feito no ano de 1968 no chamado homem crucificado de há Giv’at-Mivta:
Quando uma caixa funerária do primeiro século foi descoberta com os restos de um homem que aparentemente havia sofrido a forma macabra de execução. Uma análise dos restos revelou que os pés da vítima crucificada realmente foram pregados na cruz - um dos ossos do pé, no centro da imagem, tem um prego atravessando-o pelo lado. O prego está dobrado, o que talvez seja a razão pela qual foi deixado intacto em vez de ser removido, de acordo com os arqueólogos. Os ossos da mão, no entanto, não mostraram sinais de terem sido pregados na cruz, sugerindo que esta prática muitas vezes representada na arte da crucificação pode não ter sempre ocorrido. [26]

A Bíblia, ao citar a madeira como forma de aplicação de pena de morte, utiliza em Deuteronômio (21:22, 23) ao mencionar o uso da madeira ao condenado que transgrediu em pecado digno de pena de morte. Este após a aplicação da pena capital deveria ser colocado em um madeiro. Este madeiro não tinha o significado de cruz. A palavra traduzida era Íets, significando uma arvore, um tronco. Os hebreus não usavam cruzes como forma de execução. No livro de Esdras (6:11) temos a execução a pena de morte, que consistia em arrancar um pedaço de madeira da casa do culpado e  cravá-la em terra um pau com a ponta superior afiada e jogar sobre ele o condenado.
Conforme Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia (2012, p.1194) o Novo Testamento no livro de João (21:18,19)  temos Jesus profetizando a morte de Pedro com a pena capital da crucificação como forma de glorificar a Deus, porém não encontramos nenhum versículo bíblico contextualizando o fato. Existe o entendimento que a expressão usado por Cristo estenderás as mãos significa evidência da morte de Pedro por crucificação. A tradição narra que Pedro teria sido crucificado, de cabeça para baixo em uma cruz em forma de x, pois achava que não poderia ser crucificado da mesma forma que Jesus, uma vez que o tinha negado.

A crucificação era precedida de flagelação (flagellum= açoite de couro) que servia para enfraquecer o homem condenado.  O flagellatio romano começava quando o condenado era despido de sua roupar e amarrado pelos seus pulsos em um objeto fixo, que na maioria das vezes era um poste de madeira. O soldado romano ficava de pé ao lado do condenado e com o chicote chamado de flagrum, ou nas palavras de Horácio, “o horrível flagelo” ou “chibatada romana” composto na maioria das vezes de um chicote com tira de couro com três ou mais extremidades (scorpiones) que vinha amarrado com cacos de vidro, de osso, peso de chumbo (plumbatae) e pedaço de metal, qualquer coisa que cortasse a carne.

Em 1709, um exemplar do flagrum romano foi encontrado durante as escavações em Herculaneum, antiga cidade romana, destruída por um vulcão em 79 d.C.  

Havia outros tipos de flagrum; um deles trazia três correntes; outro contendo pequenos objetos em forma de botões e, ainda, uma versão mais rara e sofisticada, com vários pedaços de ferro ou zinco presos intermitentemente, em intervalos, ao longo de cada tira de couro (mostrado no baixo-relevo de uma estátua de Cibele no Museu do Capitólio, em Roma). Um tipo de chicote mais simples, chamados cutica, também era usado.
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Flagrum Romano

Os efeitos da flagelação eram brutais e desumanos. Depois do açoitamento, aparecem no corpo do flagelado enormes feridas (com matizes de preto, azul e vermelho), lacerações, arranhões e inchaço, basicamente ao redor das perfurações feitas pelo peso dos objetos. Frequentemente, as costelas eram perfuradas. A respiração do açoitado quase não mais existia. Os músculos entre as costas e o peito, apresentavam hemorragias. Vômitos e desmaios eram intermitentes durante os açoites. Possivelmente, para Jesus, a flagelação levou-o a um prematuro estado de choque, acúmulo de fluido na pleura e pulmões.   

O soldado romano segurava o flagrum em uma das mãos, e lançava-o para trás das costas, girava o pulso e golpeava, nessa ação atingiam-se as costas nuas, os ombros, os braços e as pernas da vitima, rasgando vasos sanguíneos, nervos e músculos. Os açoitamentos romanos eram terrivelmente brutais. O comum é que consistissem em 39 (trinta e nove) chicotadas, mas com frequência esse número era ultrapassado, dependendo do humor do soldado que as aplicava. 
Doutor David Bol[28], médico, em medicina de emergência, realiza estudos científicos sobre a deterioração física, e as fases da crucificação que vai da flagelação até a subida na cruz. A respeito do flagro, afirma David Bol que “o flagro romano chegava aos nervos com muita perda de sangue, e a vítima acaba com choque polêmico, pois não há sangue suficiente para circular pelo coração para irrigar tecidos, músculos e órgãos. A pele era arrancada”.

Bradford (2014, p.35) descreve a flagelação de Jesus:

Jesus fora espancado repetidamente e flagelado com o chicote romano antes da sua crucificação (Mateus 27:26). O açoite de couro, uma espécie de chicote, era feito de forma a infligir à máxima dor e estrago na vítima. Era guarnecido com pedaços de osso e de ferro, entrelaçados nas pontas, para dilacerar a carne em cada chicotada. O açoite penetraria nos músculos subjacentes e produziria tiras arrepiantes de carne muscular a sangrar. A dor extrema em conjunto com a perda de sangue, levava muitas vezes a que a vitima entrasse em choque, a sua pressão arterial cairia e causaria desmaio, colapso e sede intensa. [29]

Durante o trajeto ao local da crucificação o condenado carregava no pescoço uma espécie de tábua c
Com a inscrição[30] da natureza do crime. No caso especificadamente de Jesus, a tábua fora afixada acima de sua cabeça com a inscrição “rei dos judeus”.
Após a flagelação iniciava-se a crucificação propriamente dita. Depois do açoitamento, o condenado era crucificado nu, sendo suas vestes entregues aos soldados (Mt 27:35). Os soldados romanos prendiam o braço do condenado à parte transversal; depois ele era levantado juntamente com a parte transversal, sobre a trave vertical, à qual eram prendidos seus pés com cordas ou cravos com cerca de 15 (quinze) centímetros, possivelmente em número de 4 (quatro) e pregavam o condenado na viga transversal. Os pregos atravessavam o nervo central dos pulsos para evitar que o corpo caísse da cruz. Os condenados possivelmente ficavam deitados de costas, para que suas mãos pudessem ser pregadas na viga horizontal chamada de patibulum ou crossbar.  Para apressar a morte era aplicado nos joelhos da vitima, golpes de cravas com o fito de quebra-los. A dor era tão intensa que para descrevê-la recebeu nome próprio “dor excruciante” (da cruz).

Depois do açoitamento, das mãos pregadas na viga transversal, o condenado era erguido para ser colocada na viga vertical (ou “stipes”), e em seguida seus pés eram pregados semelhantes aos das mãos. Em razão de o condenado encontrar-se pendurado verticalmente morria lentamente por asfixia, alguns historiadores afirmam que a morte ocorria entre 3 a 7 dias.

Duas palavras de origens gregas se empregam para o instrumento de execução no qual Cristo sofreu a pena capital: Xylon (madeira, árvore) e estaurus (estaca, cruz).  As cruzes de dois paus eram confeccionadas em formas das letras X e T ou em forma de +. Possivelmente Jesus Cristo foi crucificado na cruz “Tau”, formado da letra “T” (Latim Crux Comissa ou de Santo Agostinho ou Cruz Egípcia). Neste tipo de crucificação o patibulum era fixado ao stipes. O condenado, geralmente nu, a crucificação era obrigado a carregar em um dos lados da nuca do pescoço o patibulum que pesava aproximadamente de 34  a 57  quilos da prisão até o local onde se encontrava o stipes. A cruz inteira pesava em torno de 136 quilos. Sem qualquer prova histórica ou bíblica, pintores Medievais e da Renascença nos deram o retrato de Cristo levando a cruz inteira. Mas o poste vertical, ou stipes, geralmente era fixado permanentemente no chão no local de execução.

A cruz dos romanos tinha um formado de um T, sem "ponta" no alto cruzando a parte horizontal. A base dela já ficava enterrada no chão. O encaixe do patibulum (braços da cruz) era feito com dois soldados erguendo suas pontas, enquanto o terceiro segurava o corpo da pessoa crucificada.

O dicionário expositivo do Novo Testamento londrino[31] salienta que o formato da cruz em “T”, formado de duas vigas, tornou-se símbolo do cristianismo em razão da origem pagã praticado na crucificação da antiga Caldeia. Este tipo de cruz fora concebida como forma de homenagem ao deus Tamuz, tendo a forma do Tau místico, a letra inicial do seu nome. Isto se deu por volta do século 3 a.D como forma da igreja primitiva como forma de aumentar seu prestigio permitiu praticas pagãs. Assim, se adotou o Tau ou “T”, para representar a cruz de Cristo.
A procissão, segundo Johnson[32], até o local da crucificação era acompanhado por uma guarda armada romana, chefiada por um centurião. Um soldado romano vinha à frente da procissão carregando um cartaz ou titulus que declarava o crime pelo qual o condenado iria ser crucificado ou o condenado carregava no pescoço uma espécie de tábua com a inscrição[33] da natureza do crime. Após fixar o patibulum ao stipes era pregado um cartaz ao topo da cruz, de forma que se estendia pela cabeça. A guarda romana somente deixava o local da crucificação ao ter  certeza da morte da vítima.

No local da execução, como forma de analgésico, por determinação legal, era dada uma bebida amarga de vinho misturado com mirra à vítima. O condenado, juntamente com o patibulum que carregava, era jogado de costas. Conforme os achados arqueológicos dos ossário do Sudário de Turim, os pregos eram cravados nos pulsos e não nas mãos da haste horizontal. O equívoco, no caso da crucificação de Cristo, pode ter ocorrido por uma interpretação errada das palavras de Jesus para Tomé, “vê as minhas mãos”, levando a entender que os pregos teriam sido afixados nas mãos de Jesus, mas isto cientificamente seria impossível, pois com o peso do corpo o crucificado cairia da cruz.
Davis[34] afirma que o condenado, após seus braços serem fixados ao patibulum, era levantado para ser fixado ao stipes. Os pés, conforme costume romanos eram pregados um por cima do outro. O tempo de sobrevivência variava de 3 a 4 dias. Esta variação era em decorrência da gravidade da flagelação, e da capacidade física do crucificado. Os soldados poderiam acelerar a morte da vítima quebrando as pernas abaixo dos joelhos.
Era costume, segundo Cooper[35] (1998, p.151-153), após o ato da crucificação, deixar o corpo do condenado ser devorado por animais. O direito romano permitia que, confirmada à morte do crucificado pelos soldados romanos, e após a obtenção de autorização de um juiz de Roma, a família do condenado poderia levar o seu corpo.
Através da crucificação, os romanos procuram dar espetáculo de poder, intimidação, controle e medo. No I Século d.C. o domínio do Império Romano cercava todo o mediterrâneo, a província da Judeia fazia parte do acervo do domínio territorial de Roma, hoje Israel. Os  judeus procuraram resistir de toda forma ao domínio romano.

 As crucificações em massa deram a Jesus Cristo uma antevisão do que lhe poderia acontecer. No ano 4 d.C. depois da morte de Herodes, O Grande, os cidadãos da região da Judeia se revoltaram contra o julgo Romano. Roma respondeu de imediato cidades foram arrasadas, alguns judeus foram vendidos como escravos e outros foram punidos com a pena capital de crucificação.

                                            Resultado de imagem para CONDENADO LEVAndo o patibulum

Figura 2 - Esquerda: condenado levando o patibulum para o poste vertical ou stipes. Direita, cruz “T”, comumente usada pelos romanos na época de Cristo. [36]
Para apressar a morte dos crucificados os soldados romanos usavam o cabo de aço de uma lança curta para partir os ossos inferiores das pernas. Isso os impediria de empurrar-se para cima com as pernas para respirar, e a morte por asfixia ocorreria em questão de minutos. Jesus, segundo os evangelhos também sofreu com esta prática judaica.
Vieram, então, os soldados e quebraram as pernas do primeiro homem que fora crucificado com Jesus e em seguida as do outro. Mas quando chegaram a Jesus, percebendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. Em vez disso, um dos soldados perfurou o lado de Jesus com uma lança, e logo saiu sangue e água. [37]


    Ao descrever os motivos do uso do cabo de aço durante a crucificação Lee Strobel, entende que:
O motivo para isso é que a tensão dos músculos e do diafragma deixa o peito na posição de inalar. Para exalar, a pessoa tem de firmar-se sobre os pés, para aliviar por um pouco a tensão dos músculos. Ao fazer isso, o prego rasga o pé, até se prender contra os ossos do tarso. Depois de conseguir exalar, a pessoa pode relaxar e inalar novamente. Depois tem de empurrar-se novamente para cima, para exalar, esfregando suas costas esfoladas contra a madeira áspera da cruz. Isso se repete até que a exaustão total toma conta, e a pessoa não consegue mais se erguer para respirar. Ao diminuir a respiração, ela entra no que é chamada acidose respiratória: o dióxido de carbono no sangue é dissolvido em ácido carbônico, fazendo a acidez de o sangue aumentar. Isso faz o coração bater de modo irregular. [38]

Existem discussões a respeito do tipo de crucificação empregada na morte de Jesus. Existem aqueles que argumentam que mãos e pés do SENHOR foram pregados (cravos) na cruz, outros grupos defendem que suas mãos e pés foram amarrados. O evangelho de João (20:24-28) trata do contexto da crucificação de Cristo em relação ao espírito critico de Tomé, um dos doze discípulos. Na narrativa de João 11:16, ele é descrito como um corajoso, em João 14:5 Champlin[39] descreve Tomé como um homem cético e honesto

Com amparo nas Escrituras, especialmente no evangelho de João (20:24-28), em que Tomé, em razão de seu ceticismo, procura prova nas mãos de Jesus que confirme sua crucificação através de pregos ou cravos. Para tanto afirma que seria necessário vir o sinal e meter o dedo nas mãos no local da crucificação. O equívoco no caso da crucificação de Cristo pode ter ocorrido por uma interpretação errada das palavras de Jesus para Tomé, “vê as minhas mãos”. Oito dias após ser crucificado surgiu Jesus aos seus discípulos, e dirigindo especialmente a Tomé disse: chega aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; chega a tua mão, e mete-a no meu lado; e não mais sejas incrédulo, mas crente. Esta marca da crucificação nos pés e nas mãos se fez apresentar no evangelho de Lucas (24:36). Assim, Jesus se fez aparecer ressurreto, e com as provas de sua morte física em seu corpo. Diante do contexto bíblico ora apresentado, defendemos a posição em termos daqueles que acreditam na crucificação de Jesus Cristo por meio de pregos, mas com a observação que estes pregos foram cravados no nervo central dos pulsos para evitar que o corpo caísse da cruz.

Nem sempre as vítimas eram crucificadas nas formas mostradas nas representações da morte de Cristo. O The Anchor Bible Dicrionary (O Dicionário Âncora da Bíblia) assim se posiciona a este respeito:
Por vezes a cruz era somente um madeiro vertical. Frequentemente, contudo, havia uma peça transversal atada no topo, dando uma forma de “T” (crux commissa), ou logo abaixo do topo, como na forma mais familiar no simbolismo cristão (cruz immissa). As vitimas levavam a cruz, ou pelo menos o travessão (patibulum) para o lugar de execução, onde eram despidas e atadas ou pregadas ao travessão, erguidas e assentadas numa cedilha (sedile) ou pequeno apoio de madeira na estaca vertical.[40]

A lei mosaica prescreve no Pentateuco a morte por apedrejamento em dezoito situações: bestialidade cometida por homem, bestialidade cometida por mulher, blasfêmia, relações sexuais com uma virgem comprometida, relações sexuais com enteada, relações sexuais com mãe, relações sexuais com madrasta, aquele que amaldiçoa os pais, instigar indivíduos à idolatria, idolatria, instigar comunidades à idolatria, necromancia, sacrificar o próprio filho ao deus Moloch, homossexualidade, pitonismo, rebeldia dos filhos contra os pais, desrespeitar o shabat, bruxaria.

Também o homem que adulterar com a mulher de outro, havendo adulterado com a mulher do seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera.  E o homem que se deitar com a mulher de seu pai descobriu a nudez de seu pai; ambos, certamente, morrerão; o seu sangue é sobre eles.  Semelhantemente, quando um homem se deitar com a sua nora, ambos, certamente, morrerão; fizeram confusão; o seu sangue é sobre eles.   Quando também um homem se deitar com outro homem como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue é sobre eles.   E, quando um homem tomar uma mulher e a sua mãe, maldade é; a ele e a elas queimarão com fogo, para que não haja maldade no meio de vós.   Quando também um homem se deitar com um animal, certamente morrerá; e matareis o animal. Também a mulher que se chegar a algum animal, para ter ajuntamento com ele, aquela mulher matarás com o animal; certamente morrerão; o seu sangue é sobre eles.  E, quando um homem tomar a sua irmã, filha de seu pai ou filha de sua mãe, e ele vir a nudez dela, e ela vir a sua, torpeza é; portanto, serão extirpados aos olhos dos filhos do seu povo; descobriu a nudez de sua irmã; levarão sobre si a sua iniquidade. [41]


Não houve crucificação de criminosos na época do Antigo Testamento. As execuções a pena capital eram por lapidação ou apedrejamento, que consistia em lançar pedras contra o réu, até matá-lo, e em seguida os blasfemos ou idólatras eram pendurados em uma árvore. Isto servia como forma de advertência e para demonstrar que os condenados eram amaldiçoados.
Ao falar da historicidade de Constantino Magno ou Constantino, O grande, Carrol[42] afirma que foi o primeiro imperador romano a professar o cristianismo. Segundo a tradição, na noite anterior à batalha de Ponte Mílvio ele sonhou com uma cruz que trazia os seguintes dizeres: “In hoc signo vinces” (sob este símbolo vencerás). Cabe a Constantino a abolição da crucificação no século IV:
Ordenou a abolição da crucificação como meio de pena capital, pensando em Jesus, mas também ensinou seus soldados a formar a cruz ao atar a suas facas a suas lança. E sua mãe, ao encontrar no mesmo momento a Vera Cruz, levada a ela por um traiçoeiro Judeu, ajudou a pôr esse símbolo onde tinha estado à águia de César. [43]

Para Barbet[44]na época de Constantino e de seus sucessores, após a abolição da crucificação em forma de “T” surgiu outra “furca” a em forma de forquilha “Y”. Nela prendia-se o condenado pelo pescoço, e ele morria estrangulado. Como se vê nada tem a ver com a morte lenta da cruz.
Conforme Strobel[45] uma prova da exata descrição da crucificação mencionada nos evangelhos foi achada por arqueólogos no ano de 1968, em Giv’at há-Mivtar, no lado nordeste de Jerusalém durante escavações encontraram restos mortais de cerca de 36 (trinta e seis) judeus que tinham morrido durante a revolta contra Roma por volta do ano 70 d.C. Uma das vítimas, segundo relato seria Yohanan, que fora crucificado e encontraram um prego de 17 centímetros ainda enfiado em um de seus pés e pedaços de madeira de oliveira da cruz ainda presos na ponta.


A revista A História secreta de Jesus descrevendo de prova arqueológica sobre crucificação afirma que:
No ano de 1968, pesquisadores encontraram ossadas de um homem crucificado em Giv’at há-Mivtar, no lado nordeste de Jerusalém. Após as análises das amostras chegou-se a conclusão que o homem teria sido crucificado, e que seus calcanhares haviam sido pregados na base do tronco vertical da cruz, e seus braços foram amarrados à trave horizontal da cruz. Trata-se de uma descoberta de grande raridade. Aliás, praticamente tudo que se sabe sobre este processo de execução foi descoberto pelo conhecimento adquirido a partir desta descoberta. Isso porque a pena da crucificação estabelecia que o cadáver do condenado deveria ser extinto. Seu corpo era oferecido aos abutres e os ossos eram jogados aos cães. Não era enterrado ou recolhido em um túmulo, para não ser venerado em peregrinação por seus seguidores. [46]

Uma das primeiras fontes não cristãs à crucificação de Jesus é provavelmente a carta de Mara Bar-Serapion, filósofo estoico da província romana da Síria, para o seu filho, escrita em algum momento no ano 73 d.C., aproximadamente 40 anos depois da crucificação de Cristo. Para demonstrar o fato de que a perseguição de sábios leva a infortúnios Geisler ao citar sobre trechos da carta de Mara Bar-Seapião afirma que:

Que proveito os atenienses obtiveram em condenar Sócrates à morte? Fome e peste lhe sobrevieram como castigo pelo crime que cometeram. Que vantagem os habitantes de Samos obtiveram ao pôr em fogo em Pitágoras? Logo depois sua terra ficou coberta de areia. Que vantagem os judeus obtiveram com a execução do seu sábio rei? Foi logo após esse acontecimento que o reino dos judeus foi aniquilado. Com justiça Deus vingou a morte desses três sábios: os atenienses morreram de fome; os habitantes de Samos foram surpreendidos pelo mar; os judeus arruinados e expulsos de sua terra vivem completamente dispersos. Mas Sócrates não está morto, ele sobrevive aos ensinos de Platão. Pitágoras não está morto; ele sobrevive na estátua de Hera, Nem o sábio rei está morto; ele sobrevive nos ensinos que deixou. [47]
Sobre essa carta, Bruce (1965, p.148) atesta:

É uma carta enviada por um cidadão sírio, chamado Mara Bar-Serapião, ao filho de nome Serapião. Mara Bar-Serapiaão achava-se encarcerado por essa época, mas escrevia com o propósito de estimular ao filho na aquisição da sabedoria e ressaltava que aqueles que se davam à perseguição dos sábios eram fatalmente vítimas de infortúnios. [48]

Dois exemplos de historiadores independentes, entre si, que relatam a crucificação de Cristo. A primeira fonte não cristã à crucificação é Josefo (2000, p.418) , historiador judeu-romano, nascido 4 anos após a crucificação de Jesus, afirmou em sua obra Antiguidades dos Judeus, escrita por volta de 93 d.C., que Jesus Cristo foi crucificado por Pôncio Pilatos, governador da província da Judéia:

Nesse mesmo tempo apareceu Jesus, que era um homem sábio, se, todavia devemos considera-lo simplesmente como um homem, tanto suas obras eram admiráveis. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios. Ele era o Cristo. Os mais ilustres da nossa nação acusaram-no perante Pilatos e ele fê-lo crucificar. Os que o haviam amado durante a vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas o tinham predito e que ele faria muitos outros milagres. É dele que os cristãos, que vemos ainda hoje, tiraram seu nome. [49]

Outra fonte é Tacitus[50], que relata de passagem, para explicar o significado do nome “Cristo”, seita perseguida durante o reinado do imperador Nero, que Cristo é o pai de todos os cristãos, executado na época do imperador Tibério pelo governador Pôncio Pilatos.

A cruz é o símbolo e o conteúdo principal da religião cristã e da civilização cristã. A cruz é a imagem mais reconhecida no mundo. O objetivo principal da crucificação era comunicar horror, forma do Estado controlar o povo. Símbolo do poder romano, o crucificado era geralmente criminosos ou inimigos do Estado, sendo que os crucificados morriam em 3 ou 4 dia. Segundo Stroud[51], a crucificação foi um dos métodos mais vergonhosos e cruéis de execução e, geralmente, era reservado apenas para os escravos, estrangeiros, revolucionários, e os mais vis dos criminosos.

Como condenação judicial romana a crucificação foi extinta pelo imperador Constantino.
Nas Filipinas, principalmente em San Matias, em Masaya, todo ano por ocasião da semana santa, ocorre a encenação da crucificação de Cristo. O ritual geralmente é celebrado com a apresentação de 10 mártires, que são pregados e crucificados em cruz de madeira, onde procuram na crucificação uma forma de banir seus pecados e conseguir prestígio perante a sociedade.

A pena de morte aplicada pelo Estado através de seu poder coercitivo fora concebida das mais variadas formas. Sendo usada não só como forma de aplicação de pena, em razão de um delito como também como modo do governo opressor intimidar seus conquistados.



[1] Justiça, pena, terror e morte.
[2]BECARRIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Editora Saraiva, 2011 São Paulo, p.90-91.

[3] Depois deste, ainda temos o Código de Lipt-Ishtar e Ur-Namma, antes de chegar ao Código de Hamurabi, o qual se apoia fortemente no conteúdo destes outros. Ver  KUHRT, Amélie. The Ancient Near East. Routledge history of the ancient world. London: Routledge, 1995, p. 64; HALLO William W. e YOUNGER, JR., K. Lawson. Monumental inscriptions from the Biblical world.Leiden: Brill, 2000, p. 363.
[4]FERREIRA, Helder. O Direito na Grécia Antiga. Centro de Ensino Superior do Amapá.  História do Direito, 2013.p 5.
[5]SOUSA, Rainer. As reformas de Drácon e Sólon. Disponível em http://www.alunosonline.com.br/historia/as-reformas-de-dra.C.on-e-solon.htm. Acesso em: 25/ jan/ 2012. 
[6] DHNET.  Código de Hamurabi. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/hamurabi.htm.
Acesso em: 17/ jun/ 2015.
[7]MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais. São Paulo: Atlas, 2005, p.6.

[8] Levítico 24:20; Êxodo 21:24; Deuteronômio 19:21;Mateus 5:38 NVI
[9]MEISTER, Mauro. Olho por Olho: A lei de Talião no contexto Bíblico. Disponível em: http://www.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_XII__2007__1/mauro.pdf. Acesso em: 17/ jun/ 2015. 
[10]. UNGER, Merril. Arqueologia do Velho Testamento. Tradução de Yolanda M. Krieven. São Paulo: Batista Regular, 1988,p.79-80.
[11]. FOSTER, Roger. Os Dez Mandamentos.  Igreja de Deus Unida, EUA, 2012.pg 46

[12] Confissão de Fé de Westminster (1643-46) (p. 16).. Disponível em: www.icp.com.br/86materia1.doc. Acesso em: 08/05/2014.
[13] Romanos 13:1-4
[14] Deuteronômio 19:2-6; 35:15,22-25
[15] Números 15:34
[16] Levítico 24:21
[17] KEISER, Walter C. Jr., Toward. Ética Antigo Testamento. Grand Rapids, Mil: Zondervan. 1983,P.251
[18] Números35:16-21
[19]2 Samuel 11: 1-5 e 12: 13 
[20] Alcorão Sagrado. Disponível em: http://www.amattos.eng.br/
[21] http:// santovivo.net/gpage311.aspx . Acesso em 3 mar de 2015
[22] TRUMAN, Davis. A Paixão de Cristo de um ponto de vista médico. Disponível em http://www.hermeneutica.com/estudos/crucificacao.html . Acesso em 3 de março de 2015.

[23] MATOS, Alderi Sousa de. A crucificação seu significado para os judeus, gregos e romanos. Disponível em www.mackenzie.com.br/fileadmin/Mantenedora/.../Crucificacao_ok.ppt‎. Acesso em 3 de março de 2015

[25]. JOSEFO, Flavio. A Guerra dos Judeus: Livro II.. Tradução e A. C Godoy. São Paulo: Editora Juruá, 2010.  
[26] Evidências arqueológicas de Crucificação na época Romana. Disponível em http://www.origemedestino.org.br/blog/johannesjanzen/?post=592. Acesso em 20 de abril de 2015.

[27] Roman Flagurm. Disponível em http://archaeologypro.weebly.com/roman-flagrum.html. Acesso em 3 de março de 2015.
[28] BOL, David. Ciência da Crucificação: Discovery Channel HD. Disponível em:  https://www.youtube.com/watch?v=4gZUS639ULI. Acesso em 10/jun/2014.  
[29] BRADFORD, Bill. Jesus Cristo a Verdadeira História. Igreja de Deus Unida.  EUA. 2014.
[30]Aramaico, grego e romano.  
[31]WALTON, John. Um dicionário expositivo do Novo Testamento. Londres: Literature, 1962,p.256..  
[32]. CD, Johnson. Aspectos médicos e cardiológicos da paixão e crucificação de Jesus, o Cristo. 1978: Bol Assoc. Med , p. 97-102.  
[33] Aramaico, grego e romano
[34]. CT, Davis. A crucificação de Jesus: A paixão de Cristo a partir de um ponto de vista médico. Ariz Med 1965; 183-187.  
[35]. Cooper, HC. A agonia de morte por crucificação. Nova Yorque: Med J, 1883,p. 151-153
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[36] http://www.frugalsites.net/jesus/crucifixion.htm. Acesso em 3 de março de 2015.
[37]. João 19:32-34..  
[38] STROBEL, Lee.  Em defesa de Cristo: um jornalista ex-ateu  investiga as provas da existência de Cristo, 1952: tradução de Antivan Guimarães Mendes, Hans Udo Fuchs. — São Paulo : Editora Vida Acadêmica,2001,p.302-307.
[39]. CHAMPLIN, R.N. O Novo Testamento Interpretado: Versículo por Versículo. Lucas a João. 2. ed. São Paulo: Hagnos, 2014.v.2,p.848,849..  
[40]  Formas Romanas de Crucificação. Disponível em. http://portugues.ucg.org/estudos/jesus-cristo-a-verdadeira-historia/formas-romanas-de-crucifixao.  Acesso em 20/ maio/ 2015.
[41]CARROLL, James. A igreja católica e os judeus. James Carroll. São Paulo: Manole, 2002.
[42] Levítico 20:10-17.
[43]. CARROLL, James. A igreja católica e os judeus. James Carroll. São Paulo: Manole, 2002, p.87.  
[44]. BARBET, Pierre Barbet. A Paixão de Cristo segundo o cirurgião. São Paulo: Edições Loyola, 2003, p.51..  
[45]. STROBEL, Lee Em defesa de Cristo: um jornalista ex-ateu investiga as provas da existência de Cristo, 1952: tradução de Antivan Guimarães Mendes, Hans UdoFuchs. — São Paulo: Vida Acadêmica, 200,p.311. .  
[46]. A HISTÓRIA SECRETA DE JESUS. São Paulo: Nova Sampa Diretriz Ltda. v.1.,2013.p11.
[47]. IN: GEISLER, Norman. Enciclopédia de Apologética. São Paulo: Vida, 2003, p.451.
[48]. BRUCE,F.F. Merece Confiança o Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1965, p. 148..  
[49]. JOSEFO, Flavio. A Guerra dos Judeus: Livro II. Tradução e A. C Godoy. São Paulo: Editora Juruá, 2010.
[50]. TACITUS, P. Cornelius. Annales ab excessu divi Augusti. Charles Dennis Fisher (ed.). Oxford: Clarendon Press, 1906,p.318.  
[51]. STROUD,W. Tratado sobre a causa física da Morte de Chlist e sua Relação com os princípios e a prática do cristianismo. 2 ed. London:  Hamilton & Adams, 1871, pp 28-156, 489-494

  







[1]GUNDRY, R.H. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1981.p.15.


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