segunda-feira, 22 de abril de 2019

A CONDENAÇÃO DE JESUS CRISTO FOI LEGAL (ÚLTIMA PARTE)





ÚLTIMA PARTE DO JULGAMENTO E CONDENAÇÃO DE JESUS A PENA DE MORTE.

NESTA ÚLTIMA PARTE CONCLUÍ-SE PELA JUSTA CONDENAÇÃO DE JESUS.





4. O JULGAMENTO DE JESUS

A pergunta que permeia a questão histórica do maior julgamento do mundo: O Julgamento de Cristo foi legal ou Ilegal? Todos os procedimentos foram devidamente cumpridos? Houve crime? Existiam provas? O julgamento foi político ou legal?

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Antes de Jesus ter sido preso, condenado a pena capital ocorreram alguns conflitos que levaram a sua prisão pelos membros do Sinédrio.

4.1 Conflitos Sociais, Políticos e Religiosos que antecederam a morte de Cristo.

Muitos esperavam em Cristo um verdadeiro revolucionário que iria levantar a bandeira contra a opressão romana, mas este não era o objetivo daquele homem especial. A revolução que ele propôs fazer fora a da alma redirecionando o homem a presença de Deus. E isto inquietou de certa maneira alguns grupos religiosos da época.  

Antes de seu julgamento e morte Jesus Cristo fora confrontado por Fariseus[1], Saduceus[2] e Mestres da Lei[3]. O cerne desses conflitos era a interpretação do Antigo Testamento. Os conflitos foram cercados de grandes polemicas, levando Jesus Cristo a lançar 8 (oito) maldiçoes contra este grupo.  Estes fatos corroboraram para que estes grupos de judeus planejassem a morte do messias.

Vejamos alguns conflitos:

4.1.1  A questão da interpretação da lei.

 Um incidente bíblico reafirma a validade da Lei Moral de Deus em todos os tempos, tanto na antiga como na nova aliança, e relaciona a lei com amor. Encontramo-lo em Mt 22.34-40. Os Fariseus não estavam inquirindo em sinceridade, mas queriam, como sempre, confundir a Jesus. Perguntaram a ele qual o maior dos mandamentos. Eles se entregavam a esse tipo de discussão continuamente e geravam grande controvérsia, com a defesa de um ou de outro mandamento. Nesse sentido, pensavam que qualquer que fosse a resposta de Jesus, iriam indispô-lo com um grupo ou com outro. Jesus, entretanto, não cita nenhum mandamento específico do decálogo, mas faz referência, conjuntamente, a dois trechos conhecidos das Escrituras (Dt 6.5 e Lv 19.18), fornecendo um resumo dos dez mandamentos:

4.1..2 A questão do sábado

Não é objetivo do presente trabalho adentrar no mérito da licitude ou ilicitude da guarda do sábado nos dias de hoje. Trataremos apenas dos conflitos entre Jesus Cristo e os mestres da Lei.

A palavra “sábado” vem da palavra hebraica shabbat que significa “cessar” ou “descansar”, segundo Nova Versão Internacional, aparece 137 (cento e trinta e sete) vezes, sendo mencionado primeiramente no livro de Êxodo[4] com a ordem do SENHOR para que o povo cozinhasse a sua alimentação na véspera do dia do descanso. E surge pela última vez na Carta de Paulo aos Colossenses[5], em que o apóstolo alerta para o cristão não se preocupa com determinados tipos de julgamentos, inclusive o sábado. A instituição do dia de descanso esta registrado em Gênesis[6].

Ainda dentro do contexto do Antigo Testamento o sábado representa o quarto mandamento prescrito na Tábua da Lei:
mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus servos ou servas, nem teus animais, nem os estrangeiros que morarem em tuas cidades.[7]

Em sua cátedra Palma (2011, p.57)s, assim entende o descanso semanal:
A palavra Shabbat significa no idioma hebraico, “descanso”. A interdição ao trabalho, conforme entendimento do inicio e do fim do dia entre os judeus e alguns povos do Oriente próximo, ocorre exatamente entre o período compreendido pelo cair da tarde de cada sexta-feira e o crepúsculo do sábado.

Nesse período de descanso deve cessar todo tipo de trabalho. O fundamento legal tem como previsão a criação, em que Deus após 6 (seis) dias de labor para concluir sua obra decidiu descansar no sétimo dia. Na verdade é um dia, é um dia para relaxamento e recuperação, um dia para distanciar-se das rotinas normais da vida, a fim de redescobrir a bondade e a graça de Deus.  

Curtins  (2002, p.69) fazendo uma comparação do sábado da criação com a libertação do povo hebreu do cativeiro do Egito afirma que Deus ao separar Israel de outras nações não permitiu que a opressão dos egípcios aniquilassem os escolhidos. Assim a escolha de Canaã para a morada dos Israelitas seria uma forma de receber o descanso. Para os hebreus o descanso em Canaã estava relacionado com o descanso da criação.

De acordo com o magistério Watson os (1965, p.93) seis dias de trabalho é uma concessão divina, sendo um favor de Deus. O SENHOR poderia fazer todo o dia um sábado. Em vez disso permitiu seis dias para fazer todo o nosso trabalho. Watson imaginou Deus dizendo: “Eu não sou um Senhor severo. Não me ressentirei do tempo que tu gastas para cuidar da tua vocação e para obteres bens. Eu te dei seis dias para fazeres toda a tua obra, e tomei apenas um dia para mim. Eu poderia ter reservado seis dias para mim e permitido apenas um para ti. Mas te dei seis dias para as obras da tua vocação e tomei apenas um dia para o meu serviço. É justo e racional que separes este dia de forma especial para minha adoração”.

O Evangelho de Mateus ao referendar, assim descreve:
 Naquela ocasião Jesus passou pelas lavouras de cereal no sábado. Seus discípulos estavam com fome e começaram a colher espigas para comê-las. Os fariseus, vendo aquilo, lhe disseram: Olha, os teus discípulos estão fazendo o que não é permitido no sábado. Ele respondeu: "Vocês não leram o que fez Davi quando ele e seus companheiros estavam com fome? Ele entrou na casa de Deus, e juntamente com os seus companheiros comeu os pães da Presença, o que não lhes era permitido fazer, mas apenas aos sacerdotes. Ou vocês não leram na Lei que, no sábado, os sacerdotes no templo profanam esse dia e, contudo, ficam sem culpa? Eu lhes digo que aqui está o que é maior do que o templo.  Se vocês soubessem o que significam estas palavras: ‘Desejo misericórdia, não sacrifícios’, não teriam condenado inocentes.  Pois o Filho do homem é Senhor do sábado". Saindo daquele lugar, dirigiu-se à sinagoga deles, e estava ali um homem com uma das mãos atrofiada. Procurando um motivo para acusar Jesus, eles lhe perguntaram: "É permitido curar no sábado? Ele lhes respondeu: Qual de vocês, se tiver uma ovelha e ela cair num buraco no sábado, não irá pegá-la e tirá-la de lá? Quanto mais vale um homem do que uma ovelha! Portanto, é permitido fazer o bem no sábado".  Então ele disse ao homem: "Estenda a mão". Ele a estendeu, e ela foi restaurada, e ficou boa como a outra. Então os fariseus saíram e começaram a conspirar sobre como poderiam matar Jesus.[8]
O sábado para os judeus era um dia santo, E Jesus tinha conhecimento. Nestes dois conflitos sabáticos extraídos do Evangelho de Mateus observasse claramente a visão de Jesus sobre a lei do sábado. O primeiro surge na cena da lavoura em que os discípulos de Jesus Cristo estavam com fome e começaram a colher espigas para comer. Os fariseus vendo tal situação inquiriram Jesus sobre a profanação do sábado pelos seus discípulos. Jesus como era seu costume buscava respostas no Antigo Testamento, então citou a passagem que Davi junto com seus companheiros estando com fome adentraram no templo e se alimentaram violando o sábado.

Era costume de Jesus ir até a Sinagoga no sábado, e após o embate da colheita de milhos Jesus curou um homem que tinha atrofia em uma das mãos. Novamente foi inquirido pelos fariseus sobre a permissão da cura no sábado. Jesus respondeu aos fariseus inquirindo-os se eles permitiram que um de seus animais precisasse de socorro não o prestaria. Os fariseus a partir desse conflito começaram a conspirar para matar Jesus.

A preservação da vida deve estar acima da prescrição de qualquer lei. Este também é o entendimento de Reimer e Richter (1999, p.52) :
Essa interpretação legalista, centrada na santidade do tempo a ser observada, acompanha o povo de Israel durante todo o período do segundo templo, no chamado “período intertestamentário”. Essa interpretação mais legalista também está claramente atestada nas controvérsias de Jesus sobre o sábado. Embora a interpretação do legalismo farisaico seja dominante neste período, há uma série de testemunhos rabínicos que também afirmam que a lei do sábado deve ser descumprida quando se trata de praticar o amor e a misericórdia.       

4.1.3 A questão dos tributos
 Os fariseus com o intuito de colocar a prova às palavras de Jesus:
Enviaram-lhe seus discípulos juntamente com os herodianos que lhe disseram: Mestre, sabemos que és íntegro e que ensinas o caminho de Deus conforme a verdade. Tu não te deixas influenciar por ninguém, porque não te prendes à aparência dos homens. Dize-nos, pois: Qual é a tua opinião? É certo pagar imposto a César ou não? Mas Jesus, percebendo a má intenção deles, perguntou: "Hipócritas! Por que vocês estão me pondo à prova? Mostrem-me a moeda usada para pagar o imposto". Eles lhe mostraram um denário, e ele lhes perguntou: "De quem é esta imagem e esta inscrição? De César", responderam eles. E ele lhes disse: Então, dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Ao ouvirem isso, eles ficaram admirados; e, deixando-o, retiraram-se.[9]
 A questão proposta a Jesus era motivada pela circunstância de haverem os judeus transformados em motivo de horror o pagamento do tributo exigido pelos romanos. O pagamento do tributo era para eles uma questão irritante, mas a pergunta feita a Jesus era uma armadilha, pois, dependendo da resposta Jesus poderia excitar contra ele as autoridades romanas ou os judeus dissidentes. Mas Jesus, conhecendo a maldade no coração dos fariseus, escapa dando-lhes uma lição de justiça, ao dizer que dessem a cada um, o que lhes era devido.

A respeito dessa mensagem “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Palma (2011, p. 72) assim leciona:

Jesus, aqui, se refere claramente ao tributo humano, aquele cobrado pelo Estado e também ao tributo que pertence a Deus (o dízimo). Os judeus estavam acostumados a fazer uma série de ofertas e sacrifícios no Templo. Por isso, logo entenderam a sua afirmação. Apesar disso os fariseus maliciosos se decepcionaram pelo fato de Jesus não ter contraposto, publicamente, os ditames de uma Roma Imperial, afinal, a cobrança de impostos era uma das motivações centrais que levava às revoltas entre os muitos grupos nacionalistas judaicos.
 
4.1..4 A questão da ressurreição

Os saduceus embora não sejam frequentemente citados nos Evangelhos, figuram entre os principais inimigos de Jesus. O sumo sacerdote e os seus amigos, que denunciaram Jesus a Pilatos pertenciam a este partido religioso.

Os saduceus talvez por acharem que a doutrina da ressurreição não se encontra elencada no Pentateuco, que era a parte do Antigo Testamento que eles aceitavam como “Escrituras Sagradas”. Apesar do livro de Daniel 12:2-3 ensinar claramente sobre esta doutrina, os saduceus tinham sua doutrina bíblia firmada nos livros de Moisés. Diferentemente dos saduceus os fariseus defendiam a doutrina da ressurreição apresentada por Jesus Cristo, e declaravam que aqueles que não acreditassem não fariam parte da mesma. Os saduceus negavam a existência dos espíritos e dos anjos. Champlin ( 2014, 9.599) a este respeito disserta:

 Naquele mesmo dia, os saduceus, que dizem que não há ressurreição, aproximaram-se dele com a seguinte questão. Mestre, Moisés disse que se um homem morrer sem deixar filhos, seu irmão deverá casar-se com a viúva e dar-lhe descendência.  Entre nós havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu. Como não teve filhos, deixou a mulher para seu irmão. A mesma coisa aconteceu com o segundo, com o terceiro, até o sétimo. Finalmente, depois de todos, morreu a mulher. Pois bem, na ressurreição, de qual dos sete ela será esposa, visto que todos foram casados com ela?  Jesus respondeu: "Vocês estão enganados porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus! Na ressurreição, as pessoas não se casam nem são dadas em casamento; mas são como os anjos no céu.  E quanto à ressurreição dos mortos, vocês não leram o que Deus lhes disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó’? Ele não é Deus de mortos, mas de vivos!  Ouvindo isso, a multidão ficou admirada com o seu ensino. [10]

Poderíamos analisar este dilema apresentado pelos saduceus a Jesus como uma anedota e não como um fato politico, pois apesar da lei do casamento levirato [11] prever o casamento da viúva sem prole com o irmão do falecido para preservar o direito de herança, pois caso realmente acontecesse na segunda viuvez os outros irmãos tentariam de toda maneira evitar o matrimonio com a viúva por acreditarem a ela uma suposta maldição.

Na verdade os saduceus queriam demonstrar a Jesus Cristo o absurdo da credibilidade na doutrina da ressurreição, entretanto Jesus mostrou aos saduceus que seus argumentos estavam errados frente à interpretação das Escrituras. 

Jesus Cristo ficou liberto das perguntas maliciosas, mas não da ideia insana de seus inimigos de matá-lo. A ressurreição de Lazaro fora o acontecimento preponderante para planejar a sua morte. Com receio de perderem suas autoridades eclesiásticas, os sacerdotes e os fariseus convocaram uma reunião perante o Sinédrio para falar sobre a pessoa de Cristo. Na reunião caifás [12], sumo sacerdote, afirmou que seria melhor a morte de Jesus ao sofrimento de uma nação, profetizando a sua morte em favor do povo judeu. Em razão dos planos dos sacerdotes em mata-lo Jesus não ensinava mais publicamente. Refugiando-se para Efraim, pois os principais sacerdotes juntamente com os fariseus ordenaram a prisão do Messias. [13]

4.2  O JULGAMENTO DE JESUS NO DIREITO HEBREU

Os membros do sinédrio preocupados com a perda do poder, em razão do crescimento de Jesus nas ações de operar milagres, ensinar o povo, e desse modo agitava as massas populares e poderia indignar os romanos ao ponto de destituir alguns membros do conselho dos setenta. Diante da ascensão de Jesus os sacerdotes  arquitetaram sua execução imediata. Acreditamos assim que a crucificação de Cristo fora principalmente de ordem politica.

O julgamento de Jesus de Nazaré é o mais famoso da historia da humanidade. Muito do que aconteceu permanece uma incógnita, pois nem tudo é conhecido. Não temos a pretensão de acrescentar ao contexto bíblico quaisquer informações sobre o fato.

O processo que julgou e condenou Jesus Cristo desdobrou-se em duas cortes distintas, a saber, e são eles: O religioso judeu ou perante o Sinédrio, e Político sob a direção de Pôncio Pilatos, governador da Judéia. O primeiro deve ser regido pela "lei judaica", e o segunda pelo "Direito Romano". Essa diversificação nos obriga a estudar separadamente os dois, a fim de determinar se os atos das autoridades que presidiram os dois julgamentos cumpriram as normas estabelecidas à época.
O fato de Jesus ser denunciado diante do Sinédrio não apresentava nenhum interesse para o Direito romano, pois esta corte de judeus não tinham poderes amplos e não recebia o"direito de espada", isto é, o direito de vida e morte. Mas essa passagem tinha um impacto político e psicológico. Mostrava ao governador o sentimento das elites sociais locais.

Segundo Champlin (2014, p.627) existem algumas discrepâncias entre os Evangelhos, isto não descaracteriza em nada o fim do ministério público de Jesus. Grandes partes dessas diferenças são de ordem cronológica, por exemplo, o Evangelho de João situa-se 6 (seis) dias anteriores a Páscoa enquanto os Evangelhos sinóticos apenas 2 (dois) dias antes do pessach

 Salientamos como anteriormente relatado, após a ressurreição de Lazaro os chefes dos sacerdotes e os fariseus estavam à procura de Jesus para tirar-lhe a vida. Também fizeram planos para matar Lázaro, pois a sua ressurreição estavam ocasionando o afastamento dos judeus em razão de passarem a crerem em Jesus.  .[14].Antes de ser preso Jesus falou a seus discípulos sobre a sua morte, a traição de Judas e a vinda do conselheiro.

Cinco dias antes da páscoa Jesus sai de Betânia à Jerusalém montado em um burrinho, exatamente como profetizou Zacarias sete séculos antes[15], sendo glorificado pelo povo judeu e alguns gregos. Neste contexto Jesus prevendo sua morte fez uso da expressão: Pai,glorifica o teu nome! " Então veio uma voz do céu: "Eu já o glorifiquei e o glorificarei novamente. [16]

Após a oração Jesus e seus discípulos atravessaram o Vale do Cedrom chegando a um terreno cultivado de olivas, e ai Judas acompanhado de um destacamento de soldados romanos e guardas enviados pelos sacerdotes e fariseus prenderam Jesus amarrando-o.

Como afirma Cohin (1994, p.163), e que somos da mesma opinião, no que se refere à existência de fatos semelhantes nos Evangelhos sobre o julgamento de Jesus; por exemplo, que Pilatos foi o governador romano responsável pelo seu julgamento, e que fora levado a sua presença pelos judeus. Entretanto existem fatos relatados somente em determinados evangelhos.

Dois fatos importantes que permearam em Lucas que não encontramos em outros evangelhos. Primeiramente o fato de Jesus ser acusado pela assembleia do sinédrio de subversivo, proibindo o pagamento de imposto a César (23:2). Outro fato descrito somente em Lucas é o interrogatório de Jesus por Herodes, em razão de Cristo ser oriundo de sua jurisdição.[17]. Isto de nenhuma maneira descaracteriza a veracidade dos quatro evangelhos, e nem colocada em duvida que Cristo viveu entre nós.

Trataremos de mostrar nos dois quadros abaixo o julgamento de Jesus Cristo pelos hebreus e romanos descritos nos evangelhos.

Quadro1- Julgamento Hebreu descritos nos Quatro Evangelhos:


Judas vende Jesus
Beijo de Judas
Prisão de Jesus
Jesus é levado Anás
Jesus levado Caifás
Julgamento  madrugada
Falsas Testemunhas
Crime  Blasfêmia
Pena de Morte
Mateus
26:15
26:48,49
26:50

26:57
27:1
26:60,61
26:56
26:57; 27:1
Marcos
14:10
14:44,45
14:46

14:55
15:1
14:56,57
14:64
14:65
Lucas
22:5
22:47,48
22:54

22:54
22:66



João


18:12
18:13

18:28

19:7


                            
O Decálogo, ou seja, os Dez Mandamentos, foram supostamente ordenados por Deus ao povo hebreu, através de Moisés, que recebeu no Monte Sinai. Esses mandamentos trazem normas que regem a conduta do homem contra a divindade, bem como o comportamento dos homens entre si e com a sociedade.

Concordamos em parte com a opinião de Renan (2006, p.373) que ao comentar sobre os motivos da morte de Jesus afirma categoricamente que são inteiramente de ordem religiosa. Esquece-se de relatar que os sacerdotes não tinha a prerrogativa da aplicação da pena de morte, e em razão desse fato Jesus foi encaminhado ao Preto romano para sofrer novo julgamento, e como Roma não julgava crimes religiosos de povos sob seus domínios, Jesus fora condenado por crime contra o Estado.  Tanto é que se contradiz ao afirmar que se a condenação de Jesus tivesse sido puramente mosaica, tê-lo-iam submetido ao apedrejamento.

Ao ser inquirido por Caifás sobre ser o Messias o Filho de Deus, Jesus prontamente confirma. Neste instante Jesus é condenado pelo crime de blasfêmia pelos sacerdotes do sinédrio por se dizer filho de Deus, rei dos judeus.

Quem blasfemar o nome do Senhor terá que ser executado. A comunidade toda o apedrejará. Seja estrangeiro, seja natural da terra, se blasfemar o Nome, terá que ser morto[18].

Thomas (2007, p.122) em seu livro faz um aprofundado estudo e explica o crime de blasfêmia:

Uma vez que o sumo sacerdote identificasse um crime de blasfêmia ou adultério, este era punido pela pena capital de apedrejamento. O condenado era levado ao local da execução, um penhasco fora dos muros da cidade, especificando nos tratados como “da altura de dois homens”. Ali a pessoa amaldiçoada era forçada para a borda e subitamente empurrada para trás, de forma que a queda atordoasse a vitima ou quebrasse sua coluna.[..] os restos eram deixados para serem bicados pelos pássaros, como havia sido primeiramente determinado no livro de Deuteronômio.
A pena em geral aplicada ao crime de blasfêmia na época de Cristo era o apedrejamento. Na Bíblia, conforme Figueiredo (2012, p. 102) existem casos de execuções por apedrejamento pela prática do crime de blasfêmia:

O transgressor ao qual se refere especificamente o texto de Lv24:11 era filho de mãe hebreia e de pai egípcio. Procurou-se a direção de Deus para tratar desse caso. Quando o Senhor fez conhecer a sua determinação (Lv 24.12), o blasfemo foi levado par fora do arraial. Aqueles que tinham ouvido a ofensa puseram as suas mãos sobre ele, e toda a congregação o apedrejou (lv 24.14,23). Os rabinos utilizavam-se de Lv 24.16 para fundamentar sua crença de que não sera licito pronunciar distintamente o nome do Senhor.
A Mischná [19] e a Guemará[20] juntas compõe a Tora Oral. A Mischná V afirma que todos os que são apedrejados também são enforcados. Aqui talvez fazendo alusão a lei mosaica: [21]
Tira o que tem blasfemado para fora do arraial; e todos os que o ouviram porão as suas mãos sobre a sua cabeça; então, toda a congregação o apedrejará. Quando também em alguém houver pecado, digno do juízo de morte, e haja de morrer, e o pendurares num madeiro,
 Um exemplo de morte por apedrejamento nas Escrituras foi a de Estevão, servo escolhido elos doze discípulos, para ministrar a palavra de Deus. Homem cheio do Espirito Santo e de grande sabedoria levantou oposição entre os membros as sinagoga. Prenderam Estevão, apresentando-o ao Sinédrio, acusando-o de falar mal do lugar santo e da lei. Julgaram-no a morte por apedrejamento.[22]
Outro ponto que viola a legislação judaica refere-se ao fato que o procedimento processual criminal deveria ser  realizado durante o dia e em audiência pública. Existe ainda o fato que a audiência de instrução e julgamento como oitiva de testemunhas e a inquirição do acusado deveria ocorrer nas dependências da suprema corte judaica, fato que não ocorreu, uma vez, que Jesus fora levado primeiramente à casa de Anás, sogro de Caifás, e em seguida  fora amarrado e conduzido a residência de Caifás.[23]
O réu sofreu agressões configurando o repudiado crime de tortura. A Ele não fora concedido os princípios previstos dentro do escopo jurídico hebreu como o da ampla defesa, do contraditório e o da presunção da inocência, revisão da votação da sentença no prazo de 3 (três) dias e a aplicação da pena as testemunhas por não falar a verdade
Contrariando a legislação o interrogatório de Jesus foi provavelmente realizado na madrugada e na véspera de uma festividade pelo chefe dos sacerdotes Caifas durante os anos de 18-36 d.C,  No livro de Marcos consta que Caifás perguntou a Jesus se ele era o Messias, Filho de Deus. Jesus não apenas confirma como diz ao sumo sacerdote que ele virá vindo das nuvens do céu.[24].
O sistema judicial hebreu tinha a testemunha como base para as todas as provas em um processo. Uma palavra podia salvar ou condenar, à morte. O Direito Hebreu estabelecia a necessidade de duas ou mais testemunhas para condenar alguém pela pratica de uma conduta delitiva de algum crime. Proibindo a execução do acusado de delito pelo depoimento de apenas uma testemunha. Assim o direito judaico não permitia a condenação a pena capital com base apenas em uma testemunha. Uma testemunha no sentido literal significa nenhuma. Caso houvesse duas testemunhas em um crime apenado com a morte, ambas deveriam concordar em suas declarações com os faros acusatórios. Jesus foi a principal vitima de falso testemunho. Na época de Moisés o juramento era realizado com a imposição das mãos sobre os órgãos genitais[25].  Na época do julgamento de Cristo já não havia este costume e as testemunhas que compareceram perante os sacerdotes não prestaram  juramento, mas apesar de se absterem desse ato, elas  praticaram o crime de Perjúrio ao ferirem o nono mandamento do Não dirás falso testemunho contra o teu próximo, ou seja, não mentir perante o tribunal. A testemunha falsa deveria receber o mesmo castigo que tivesse recebido o acusado, seguindo o princípio de que o castigo deve ser proporcional ao crime. [26].

Mesmo sabendo que a mentira aborrece ao coração de Deus[27], os sacerdotes, como forma de parecer um julgamento justo, arranjaram testemunhas para condená-lo a morte, porém em nenhum momento tais pessoas declaram algo que pudesse incriminar Jesus[28]. Algumas testemunhas foram pagas para acusar Jesus de blasfemar contra Deus, contra o templo e contra a lei. [29]

Segundo a Lei judia, era necessário contar com duas ou mais testemunhas que concordassem. Ainda com base no livro de Marcos, Caifás após ouvir de Jesus que ele era Filho de Deus decidiu pela dispensa das testemunhas, e juntamente com os demais presentes condenaram Jesus a pena de morte pelo crime de blasfêmia.  Segundo a lei rabínica a confissão voluntaria do acusado não era prova suficiente para condená-lo a pena capital. Outro princípio dentro do escopo jurídico hebreu era o da ampla defesa ao acusado o da questão das testemunhas, revisão da votação da sentença no prazo de 3 (três) dias e a aplicação da pena as testemunhas por não falar a verdade.

Entendemos que em relação à legislação judaica o julgamento de Jesus Cristo proferido pela alta corte dos sacerdotes feriu alguns preceitos fundamentais, tais como: Testemunhas no quesito da uniformidade das declarações, ausência de defensor ao acusado, a simples confissão do acusado não configurava motivo suficiente para a sua condenação, o procedimento em sua formalidade deveria ser realizado no interior da Suprema Corte, nenhum procedimento poderia ocorrer na madrugada, porém concordamos plenamente com     que Jesus era merecedor da pena de morte, pois infligiu contra as leis de Moisés ao praticar o crime de blasfêmia e ameaçar destruir o templo.  

4.3  O JULGAMENTO DE JESUS NO DIREITO ROMANO

Após arbitrariamente condenarem Jesus a pena de morte. Os juízes do Sinédrio por não possuírem a prerrogativa da aplicação da pena capital conduziram Jesus até a presença do representante do governo romano na Judeia (26-36 d.C), Pôncio Pilatos, Procurador Romano,’

No século I, a Judeia era uma pequena província submetida à autoridade do imperador Tibério (14-37 d.C), ela não era uma província de direito, mas de fato, pois seu território fazia parte da Síria. Naquela época quem a governava era um perfeito e não um procurador.

Quadro 2- Julgamento Romano descritos nos Quatro Evangelhos:


Jesus entregue Pilatos
Pilatos: Você é o rei dos judeus
Jesus admite que é rei
Jesus entregue a Herodes
Liberdade de Jesus ou Barrabás
Pena de morte
Lesa-majestade


Mateus
27:2
27:11,12


27:15-21
27:26
27:37


Marcos
15:1
15:2,3


15:6-11
15:15
15:26


Lucas
23:1
23:3

23:6-12
23:17,18
23:21-25
23:2,38


João
18:28
18:33,34
18:36,37

18:39,40
19:16
19:19



O processo de Julgamento de Jesus no Direito Romano fora feito excepcionalmente através do procedimento extraordinário, haja vista que Pôncio Pilatos[30] agiu na condição de representante do imperador. O julgamento ocorreu diante da autoridade legal romana somente em uma fase quando Pilatos percebeu que Jesus sendo Galileu deveria ser inquirido por Herodes Antipas tetrarca da Galiléia. Este era, segundo a legislação romana o responsável pelo pronunciamento da sentença, neste caso seria o nosso juiz de direito. Temos no julgamento as partes esperadas em um processo; vitima réu e o representante da autoridade romana.    

Pilatos encontrava-se com as mãos amarradas, pois a princípio alegou que não poderia aplicar a pena capital a Jesus, pois não vislumbrava nenhum tipo de crime em sua conduta. Aqui temos que ressaltar que Jesus fora condenado pela suprema corte judaica pelo crime de blasfêmia, que enseja a pena de morte por apedrejamento, porém tal delito não encontrava descrição legal no direito romano, pois configurava crime de ordem religioso.  As religiões no Império Romano (GUSSO, 2006, p. 207) gozavam autonomia, por isso era permitido o culto aos numerosos deuses. O interesse do Estado na religião não era de cunho moral nem espiritual, mas apenas de utilidade, isto é se ela servia ao império era bem vista, caso contrario era tratada com indiferença pelo imperador.

Buscando uma forma de agradar os sacerdotes do Supremo Tribunal Judaico, Pilatos se dirigiu a Jesus com a única pergunta que poderia incriminá-lo perante a legislação romana: Tu és o Rei dos judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes. (Lc 23:3 Mt 27:11; Mc 15:2; Jo 18:33).  Pilatos procurava artifícios para enquadrar Jesus no delito de alta traição e insurreição por afirmar ser rei da Judéia, província de domínio romano, tal fato encontra-se prescrito como crimine na Lex Julia maiestatis [31]  

A Lei de Traição ( Lex Julia maiestate) ou  nous Lex Iulia ou Lex Iulia de maiestate é uma lei promulgada em 8 aC pelo imperador Augusto que reorganizou toda a questão sobre o crime de traição, isto é, de qualquer ofensa ou ameaça potencial prejuízo do imperador e, em seguida, para as suas autoridades. Foram sancionados como nous crimen (pensamentos criminais)  contra os príncipes as seguintes condutas: difamar a memória dos imperadores falecidos; indignação com estátuas ou outras imagens imperiais; assassinato de reféns; todas as atividades destinadas a promover iniciativas de guerra "sem a ordem do Imperador" (ex. se alistar soldados, batalha salarial, etc.) e recusa em reconhecer o imperador como uma divindade.[32]

Alba (2013, p.85) também corrobora com  nosso pensamento. Ele afirma que os fatos que serviram de fundamento para que Pôncio Pilatos Jesus Cristo a pena de morte se enquadram dentro do tipo de crime de lesa majestade. Em sua origem o termo majestade é um atributo próprio dos deuses. Maietas significa maior no mesmo sentido que a liberdade é a qualidade maior para o homem. Atentar contra ela seria o mesmo que se rebelar contra a ordem dos deuses protetores das cidades como a ordem social.  Nesta posição está a proteção dignidade e honra do imperador.      

Portanto a Lex Julia Maiestatis (Lei da Traição) considerava crime grave, alta traição e insurreição, sendo sentenciado com do com a pena capital toda conduta delitiva, cujo acusado tenha de alguma forma pretendido receber o titulo de rei, monárquica ou chefe de algum território sob dominação romana. O sentenciado com a morte carregava um cartaz pendurado no pescoço com o titulo do crime praticado. E os Evangelhos relatam que Jesus recebeu a inscrição acima de sua cabeça Rei dos Judeus [33]. Ficando caracterizado o crime previsto na Lex Julia Maiestatis. Nos Evangelhos de Lucas r João temos a informação que a frase Rei dos Judeus seria um titulo colocado acima de cabeça de Jesus, que caracteriza a tipificação da condenação de Jesus na Lex Julia Maiestatis .

A pergunta que Pilatos fez a Jesus se era o rei dos judeus[34] é a mesma realizada por Caifás. E a resposta de Jesus corresponde à resposta ante o Concílio[35]: É tu que afirmas. Como certamente Pilatos não entenderia o conceito que os judeus tinham do Messías, o mais fácil para eles era acusar Jesus de pretender ser rei, coisa que o governador interpretaria como um ato de rebelião contra Roma. A resposta Você o diz podia significar simplesmente Sim, ou também podia indicar que Jesus admitia ser rei, mas não no sentido em que o entendia o governador.

 O reino divino era crença apenas do povo judeu.  No contexto histórico, politico e religioso da época do julgamento de Jesus Cristo o Estado Romano acreditava apenas no reino secular. Os imperadores em muitos casos eram considerados imortais. A questão do reinado secular fica bem clara no nascimento de Jesus, em que Herodes, O Grande, não compreendendo a razão da vinda de Cristo e temendo que aquele recém-nascido algum dia o destronasse determinou a morte de toda criança judia baixo de 2 (dois) anos. [36]

Pilatos ao perceber que Jesus era Galileu, respeitando o princípio legal da jurisdição territorial encaminhou ao rei da Galileia Herodes Antipas. Herodes por ouvir falar dos milagres realizados por Jesus esperava que ele realizasse algum sinal milagroso, mas Jesus permaneceu calado. Herodes após zombar de Jesus mandou-o de volta a Pilatos.[37]

Os Evangelhos afirmam que Pilatos, após receber Jesus de Herodes declarou aos que ali se faziam presentes que não achou nenhuma culpa das quais os membros do Sinédrio haviam acusado Jesus. [38]. Acreditamos que Pilatos tenha tomado posição favorável a Jesus como forma de agradar a multidão ou por acreditar que o assunto era de questão religiosa, uma vez que, poderia correr o risco, no caso de condenação de desagradar aqueles que acreditavam em Jesus. Esta defensiva de Pilatos a favor da absolvição de Jesus poderia ser uma forma de compensar dois episódios (JOSEFO, 2013, p.829,830) em que Pilatos desagradou os judeus. A primeira refere-se à entrada em Jerusalém de vários estandartes com a imagem do Imperador Tibério César, que representou um embate a fé judaica, e outro episódio Pilatos desejou usurpar dinheiro do tesouro sagrado para trazer a Jerusalém , pelos aquedutos ,água s dízimos e das ofertas trazidas ao Templo sob justificativa de usar os recursos arrecadados na construção de aquedutos. 

Entendemos que diante da insistência dos judeus pela condenação de Jesus, Pilatos julgou-o respeitando as formalidades processuais  romanas. Este também é o pensamento de Puig (2006, p.87):

O processo contra Jesus foi levado a cabo segundo um procedimento jurídico romano conhecido como cognitio extra ordinem, que constava de quatro partes: acusação, interrogatório, confissão do inculpado (se é que havia) e sentença. Diferentemente do processo ordinário de uma causa criminal, em que a sentença era pronunciada por um tribunal presidido por um praetor (que não intervinha na sentença), o processo extraordinário ou extra ordinem era executado por um alto cargo da administração. Este se fazia responsável por todo o processo e pronunciava a sentença. Assim pois, com relação às causas criminais, o processo extra ondinem era habitual nas províncias, onde a máxima autoridade (um legado, um cônsul, um procônsul, um prefeito, um procurador, um pretor) era a única última instância com autoridade para ditar sentenças à pena capital. Esta autoridade, o ius gladi, havia sido conferido, segundo explica Flavio Josefo (Guerra 2, 117), a Coponio, o primeiro governador romano da Judéia, e a seus sucessores no cargo no ano 6 d.C.
Em relação à formalidade processual criminal de Roma no processo de julgamento de Jesus encontramos as três personagens esperadas; o acusador (grão-sacerdotes e os anciãos do povo), o acusado (Jesus Cristo)  e o representante da autoridade romana (Pôncio Pilatos) . Os "grão-sacerdotes e os anciãos do povo conduziram a acusação nos termos formalizados no Sinédrio em que Jesus declarou ser o rei dos judeus. Agora era a vez de Pôncio Pilatos intervir pelo Direito de Espada. Ele perguntou a Jesus: "Tu és o rei dos judeus?" (Mateus, 27 11). Jesus não reagiu, não disse nada. O juiz sentenciou-o a pena capital por crucificação.

No sentido da tipificação do crime de traição concordamos com a cátedra de Cohen (1994, p. 191) ao afirmar que todos os Evangelhos concordam pela iniciação do procedimento criminal acusatório contra Jesus frente ao Direito Romano quando Pilatos dirigiu a seguinte pergunta: És tu o rei dos Judeus? Sendo a conclusão de que Jesus foi acusado diante do Procurador romano pelo delito de pretender ser rei dos judeus, sem ter recebido por parte do imperador alguma designação. Prova categórica que fora está a acusação formal por parte do Direito Romano encontra-se pela inscrição na cruz da crucificação de Jesus da palavra Rex Judaeorum “Rei dos Judeus.   

A condenação de Jesus Cristo ao crime capital conhecido como lesar a majestade do imperador. Este tipo de delito tipifica-se não somente pela conduta de traição ou desejar ser rei, mas tudo o que o imperador ou um governador pudesse considerar danos ao interesse de Roma. Ao dissertar sobre o crime de lesa majestade Cohen(1994, p.193) revela que:

Era poder do imperador, e só dele nomear qualquer “rei dos judeus”. Ele o fizera antes, no caso de Herodes, e o faria no caso de Agripa. Mas uma nomeação que não fosse feita pelo imperador, incluindo a autonomeaçao, importaria não apenas na usurpação dos poderes imperiais, mas também numa negação da soberania do imperador, além de insurreição e defecção em potencial que implicava.             
A pena capital de crucificação não era aplicada aos cidadãos romanos, mas apenas aos escravos e aos não-romanos que houvessem cometidos crimes violentos, como homicídio, furto grave, traição e rebelião ou sedição . Kersten (2012, p. 146) relata alguns costumes e fatos históricos interessantes, a respeito da morte dos condenados a crucificação pelos tribunais romanos:

A história nos conta que a sentença de morte nos tribunais romanos se consubstanciava nas palavras 'ibis and crucem' que significam 'subirás à cruz'. A crucificação era a forma mais ignominiosa e brutal de morrer. Essa pena não era aplicada a cidadãos romanos, mas aos povos dos países dominados, era a maneira popular de converter um povo rebelde em súditos pacíficos e obedientes ao jugo romano. A prática da crucificação era desconhecida entre os judeus, que em caso de pena de morte usavam a lapidação, decapitação, estrangulamento e fogueira. Porém, segundo a lei mosaica, um blasfemo, quando já estava quase morto, podia ser pendurado a uma árvore, pois aquele que é suspenso é um maldito por Deus. (Deuteronômio, capítulo 21 e versículo 23). A crucificação, não podia nunca ocorrer no sábado. Entre os judeus, o sábado tem início na tarde do dia da Preparação, que foi o dia da crucificação.

Entendemos que o julgamento de Jesus perante o Direito Romano fora Justo, pelo fato de se pautar pela então legislação a época vigente, poderíamos questionar a questão do recurso da apelação.  Ao contrario de Paulo, cidadão romano, Jesus não tinha o direito legal da apelação, em razão de não possuir cidadania romana.
  
Entendemos que a audiência de instrução e julgamento de Jesus perante Pilatos cumpriu as formalidades legais prevista no direito romano. No mesmo sentido leciona o professor Alba (2013, p. 127), ao observar os procedimentos legais relevantes na época de Roma:
Não foi uma reação arbitrária da época, camuflada sob aparências jurídicas, mas um verdadeiro e legítimo processo. Um dos acontecimentos históricos de maior transcendência, ao ser julgada uma figura que marcou de forma decisiva a História universal, independentemente da adesão, ou não, à fé que representa o exemplo do filho de Deus para os cristãos. Não há irregularidades nos processos sofridos por Jesus. Não existe irregularidades nos processos sofridos por Jesus as fontes disponíveis permitem concluir que os tramites se desenvolveram de acordo do as prescrições previstas tanto pelo direito judeu da época como pelo direito penal romano.   


  













CONCLUSÃO

O maior Julgamento que a humanidade conheceu ocorreu há mais de 2000 (dois mil) anos, e para muitos o cenário continua bastante vivo.  Muito já se falou sobre a legalidade ou não do julgamento. Para os cristãos ao analisar as Escrituras concluem que o Filho de Deus foi condenado inocentemente, mas se levarmos em considerações os aspectos apenas jurídicos, Jesus recebeu sua sentença dentro dos procedimentos previstos nas legislações rabínicas e romanas?

Nossa pesquisa cientifica perdurou um espaço temporal de aproximadamente 2 (dois) anos. Procurarmos pautar-nos pelo princípio da imparcialidade da religiosidade.  As conclusões que chegamos são puramente de características jurídicas, contraponto as fontes bíblicas e teológicas.
Iniciamos nossa pesquisa procurando a historicidade da pena capital. Percebemos que em grande parte sua aplicação serviu como forma do Estado dominador subjugar o dominado. Em relação ao direito hebreu e romano cada um possuía na época do julgamento de Cristo sua finalidade especifica. Cabia ao rabínico a apreciação das questões religiosos e ao romanos os delitos que afrontassem diretamente ao interesse do Estado.

As informações não cristãs sobre o processo e julgamento de Jesus no I século e no início do II são pouquíssimas. A primeira delas é a passagem de Tácito(1906, Annais, XV,44,5), onde em um pequeno trecho reporta a execução de Jesus por Pôncio Pilatos: “[...]Cristo, durante o reinado de Tibério, sofreu sobre si uma extrema penalidade pelo procurador Pôncio Pilatos. A segunda de Josefo (2013, p.832), que afirmou que:


Agora neste tempo, Jesus, um homem sábio, se é que podemos chamá- lo de “homem”; pois ele foi um operador de maravilhas, um mestre de tais homens que receberam a verdade com prazer. Ele atraiu a si tanto muitos judeus quanto muitos gentios. Ele foi o Cristo. E quando Pilatos, por sugestão dos principais homens entre nós, condenou-o à cruz, aqueles que o amavam foram os primeiros a abandoná-lo; mas ele apareceu vivo a eles novamente ao terceiro dia; como os profetas sagrados haviam profetizado sobre isto e mais umas dez mil coisas maravilhosas sobre ele. E o grupo dos Cristãos, assim chamados por ele, não foi extinto até os dias de hoje.

Em relação ao julgamento e a condenação de Jesus Cristo, após a analise das mais variadas fontes concluímos pela ilegalidade na questão procedimental do processo judaico, mas pela correta tipificação no crime de blasfêmia. No direito romano não temos duvidas ao afirmar que tanto as questões procedimentais do julgamento bem como o crime em que Jesus fora condenado estavam dentro dos parâmetros legais da legislação da época. Nessas condições, é forçoso constatar que, do ponto de vista estrito do Direito romano, não há nenhuma ressalva a fazer na maneira como Pôncio Pilatos conduziu o processo.

Compreendemos que Jesus praticou apenas uma conduta delitiva com tipificações criminais diferentes em razão da legislação própria dos judeus e dos romanos. Na lei mosaica, que trata do aspecto religioso do julgamento, Jesus foi condenado pelo crime de blasfêmia. Na lei romana, que trata do aspecto politico, Jesus foi condenado pelos crimes de sedição (agitar a o povo) e lesa majestade ao ser declarar rei dos judeus, e que seu reino não era desse mundo, mas isto ameaçava a figura do Imperador romano.

A pena da lei mosaica pelo crime de blasfêmia é o apedrejamento até a morte. Esta não foi aplicada em razão dos sacerdotes judeus não possuírem o direito de espada. Sendo assim foi necessário encaminhar Jesus ao Procurador romano, e este após julgá-lo condeno a crucificação, respeitando a compilação da legislação romana.

É erroneamente imaginar que houve apenas um culpado pela crucificação de Jesus Cristo. Podemos narrar as participações de Judas Iscariotes, a dos lideres judeus narrada pelo Talmude no tratado de Sanhedrin e de Pôncio Pilatos.




  

                        REFERÊNCIAS

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MATOS, Alderi Sousa de. A crucificação seu significado para os judeus, gregos e romanos. Disponível em www.mackenzie.com.br/fileadmin/Mantenedora/.../Crucificacao_ok.ppt‎. Acesso em 3 de março de 2015
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Um dicionário expositivo do Novo Testamento. Londres. 1962,W.E. Vine, p. 256
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CT, Davis. A crucificação de Jesus: A paixão de Cristo a partir de um ponto de vista médico. Ariz Med 1965; 22:183-187
HC, Cooper . A agonia de morte por crucificação. 1998. NY Med J 1883; 38:150-153
STROBEL, LeeL Em defesa de Cristo: um jornalista ex-ateu investiga as provas da existência de Cristo, 1952: tradução de Antivan Guimarães Mendes, Hans UdoFuchs. — São Paulo: Vida Acadêmica, 2001. p. 302-307. Alexander Metherell é um dos entrevistados por Lee Strobel em seu livro “Em defesa de Cristo”.
CHAMPLIN, R.N. O Novo Testamento Interpretado: Versículo por Versículo. Volume . São Paulo:. Editora hagnos.2014..
GUNDRY, R.H. Panorama do Novo Testamento. São Paulo:Edições Vida Nova, 1981.p.151
GUSSO, Antônio Renato. Panorama Histórico de Israel: Para estudantes da Bíblia. Curitiba: Santos Editora.2006.
Flavio Josefo História dos Hebreus: De Abraão a queda de Jerusalém. Rio de Janeiro:CPAD.2013..
BANCROFT, E.H. Teologia elementar. São Paulo:Batista Regular. 1995















ANEXO


Cópia  fiel da peça do processo de Jesus Cristo realizada por Pilatos, que se encontra no Museu da Espanha.

No ano dezenove de TIBÉRIO CÉSAR, Imperador Romano de todo mundo. Monarca invencível na olimpíada cento e vinte ... sob o regimento e governador da cidade de Jerusalém, Presidente Gratíssimo, PÔNCIO PILATOS. Regente na baixa Galiléia, HERODES ANTIPAS. Pontífice sumo sacerdote, CAIFÁS, magnos do Templo, ALIS ALMAEL, ROBAS ACASEL, FRANCHINO CENTAURO. Cônsules romanos da cidade de Jerusalém, QUINTO CORNÉLIO SUBLIME E SIXTO RUSTO, no mês de março e dia XXV do ano presente - EU, PÔNCIO PILATOS, aqui presidente do Império Romano, dentro do palácio e arqui-residente julgo, condeno e sentencio à morte, Jesus, chamado pela plebe - CRISTO NAZARENO - e Galileu de nação, homem sedicioso, contra a Lei Mosaica - contrário ao grande Imperador TIBÉRIO CÉSAR. Determino e ordeno por esta, que se lhe dê morte na cruz, sendo pregado com cravos como todos os réus, porque congregando e ajuntando homens, ricos e pobres, não tem cessado de promover tumultos por toda a Galiléia, dizendo-se filho de DEUS E REI DE ISRAEL, ameaçando com a ruína de Jerusalém e do Sacro Templo, negando os tributos a César, tendo ainda o atrevimento de entrar com ramos e em triunfo, com grande parte da plebe, dentro da cidade de Jerusalém. Que seja ligado e açoitado, e que seja vestido de púrpura e coroado de alguns espinhos, com a própria cruz nos ombros, para que sirva de exemplo a todos os malfeitores, e que, juntamente com  ele, sejam conduzidos dois ladrões homícidas; saindo logo pela porta sagrada, hoje ANTONIANA, e que se conduza JESUS ao Monte da Justiça chamado de CALVÁRIO, onde, crucificado e morto, ficará seu corpo na cruz, como espetáculo para todos os malfeitores e que sobre a cruz se ponha, em diversas línguas, este títuto: JESUS NAZARENUS, REX JUDEORUN. Mando, também, que nenhuma pessoa de qualquer estado ou condição se atreva, temerariamente, a impedir a justiça por mim mandada, administrada e executada com todo rigor, segundo os Decretos e Leis Romanas, sob pena de rebelião contra o Imperador Romano. Testemunhas da nossa sentença: Pelas doze tribos de Israel: RABAIM DANIEL, RABAIM JOAQUIM BANICAR, BANBASU, LARÉ PETUCULANI. Pelos feriseus: BULLIENIEL, SIMEÃO, RANOL, BABBINE, MANDOANI, BANCUR FOSSI  Pelo Império Romano: LUCIO EXTILO E AMACIO CHILCIO.
Transcrita da obra O Mestre da Vida, de AugustoCury, págs. 166\167,  23ª ed., editora Academia de Inteligência.    Fonte: http://www.soleis.adv.br/sentencacristo.htm












Quadro 3- Os Evangelhos sinóticos similaridades e discrepância no julgamento de Jesus.
  Mateus
Marcos

Lucas

O único a revelar que Jesus fora levado, após a prisão, a presença de Caifás (26:55) 

Jesus após a prisão fora levado a presença do sumo sacerdote (14:53)

Jesus após a prisão fora levado à presença do sumo sacerdote (22:54)

Falsas testemunhas. Duas se testemunharam que Jesus havia afirmado que seria capaz de destruir o santuário de Deus e reconstruir em três dias. (26:60,61).

Falsas testemunhas declaram que Jesus havia afirmado que seria capaz de destruir o santuário de Deus e reconstruir em três dias. (14:55-58).




Jesus acusado do crime de blasfêmia (26:65)
Jesus acusado do crime de blasfêmia (14:64)


O único que descreve a ressurreição dos corpos dos santos (27:52,53)
Descreve quem eram os judeus: principais sacerdotes, os anciãos, os escribas e todo o conselho ( 15:1)
 O único que fala da salvação de um dos criminosos que fora crucificado junto a Jesus (23:39-43)



Os anciãos e os principais sacerdotes levaram Jesus a Pilatos (27:1-2)

Jesus fora preso pelos emissários dos principais sacerdotes, dos escribas e dos anciãos (14:43)
Toda a assembleia (anciãos do povo, principais sacerdotes e os escribas) levaram Jesus a Pilatos (22:66)  

Jesus fora acusado pelos principais sacerdotes e anciãos  (27:12)
Jesus fora acusado pelos principais sacerdotes (15:3)
Toda a multidão acusou Jesus (23:1-2)

O único que fala da decisão dos lideres religiosos em condenar Jesus à morte (27:1)

O único que acusa Jesus da proibição de pagamento a César, e de se declarar rei (23:2)

Beijo de Judas em Cristo como forma de identifica-lo aos guardas (26:48-50)
Beijo de Judas em Cristo como forma de identifica-lo aos guardas (14:44-46)
Beijo de Judas em Cristo como forma de identifica-lo aos guardas (22:47,48)

Judas devolveu o dinheiro ao chefe do sacerdote a aos lideres religiosos, e depois enforcou-se (27:3-9)

O único que fala do interrogatório de Jesus por Herodes, em razão de Cristo ser oriundo de sua jurisdição (23:6-12)

Cirene é obrigado a carregar a cruz de Jesus (27:32)
Cirene é obrigado a carregar a cruz de Jesus (15:21)
Cirene é obrigado a carregar a cruz de Jesus (23:26)




[1] Aos fariseus eram confiadas a interpretação e a explicação a Palavra de Deus. Toda semana, na sinagoga, eles deveriam ler e interpretar a Lei e os Profetas para os filhos de Abraão, mas o legado dos fariseus é que a perspectiva que ofereciam da Escritura acabava por se tornar um conjunto de regras legalistas. (ALEEN, 2012, p. 40).    
[2] Formavam um partido judaico, mencionado apenas 13 vezes no NT, mas não no quarto Evangelho ou nas Epístolas. Desempenhavam um papel importante na história religiosa daquele tempo. Tinham relação intima com o sacerdócio. Os ensinamentos de Jesus eram um ataque direto à sua posição. Seu desejo de eliminar Jesus tão forte quanto dos fariseus. (FIGUEIREDO, 2007, p.538).




[4] que lhes explicou: "Foi isto que o Senhor ordenou: ‘Amanhã será dia de descanso sábado consagrado ao Senhor. Assem e cozinhem o que quiserem. Guardem o que sobrar até a manhã seguinte ( Êx: 16:23)
[5] Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado. (Cl 2:16)
[6] No sétimo dia Deus já havia concluído a obra que realizara, e nesse dia descansou. Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele descansou de toda a obra que realizara na criação (Gn 2:2,3)

[7] Êxodo 20:9
[8] Mateus 12:1-14 (NVI)
[9] Mateus 22:16-22 (NVI)
[10] Mateus 22:23-33  (NVI)
[11] Deuteronômio 25:5-6 (NVI)
[12] (...) Caifás... (cujo nome figura nos textos de Mt 26:57; Jo 11:49 e At 4:6) significa Pedra, também se chama José e foi sumo sacerdote, mais ou menos de 18 e 36 d.C, quando então foi deposto por Vitélio, governador da Síria. Era genro de Anás (Jo 18:13) que também é chamado de sumo sacerdote (At 4:6).    
[13] João 11:47-57
[14] João 12:10,11 (NVI)
[15]  Zacarias 9:9
[16] Zacarias 12:1-50
[17] Lucas 23:2; 23:6-12
[18]Levítico 24:16
[19] Primeira redação na forma escrita da tradição oral judaica. É o resumo transcrito da Torá Oral.
[20] Parte do Talmude que contém os comentários e as análises rabínicas da Mischná.         
[21] Levítico 24:14 e Deuteronômio 21:22
[22] Atos capítulos 6 e 7 NVI
[23] João 18:13, 24
[24] Marcos 14:60-62
[25] Gênesis 24:2; 47:29
[26] Êxodo 20:16; Números 35,30;Deuteronômio 19:15-21; 17:6
[27] Provérbios 16:19
[28] Mateus 26:59,60
[29] Atos 6:11
[30] Poncio Pilatos era prefeito ou governador da Judeia no período de 26-36 d.C (Mateus 27:11)
[31] Legislação romana sobre traição atribuída a Júlio César.
[32] Disponível em: https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&s1=it&u=https://it.wike. Acesso em 10 de set de 2015.                                                                                                                      
[33] Mateus 27:37;Marcos 15:26;Lucas 23:38; João 19:19
[34] Mateus 27:11,12
[35] Mateus 26:63,64
[36] Mateus 2:16
[37] Lucas 23:6-11i
[38] Lucas23:14